quinta-feira, 28 de junho de 2012

Carta de Santa Catarina de Siena sobre o domínio da sexualidade





Não existe outra maneira de se desprezar o mundo e atingir a pureza perfeita, senão pela conservação da mente e do corpo na continência. Porque a alma que não se aproxima de Deus e não se une a ele pelo afeto do amor, logo se vê longe de Deus, atraída para as criaturas, envolvida em satisfações, prazeres e procura de altas posições no mundo. Ninguém consegue viver sem um amor. E ao amar, transforma-se no objeto amado. A pessoa sempre retira algo daquilo que ama.
O amor humano
Se a pessoa ama o mundo, nele somente encontra sofrimento, porque, pelo pecado, o faz germinar tribulações e males com grande amargura. Nossa carne somente produz mau cheiro, pecado, corrupção. Ao conforma-se com os desejos carnais e a paixão sensível, a alma se envenena e se intoxica mortalmente, pois perde a vida da graça pelo pecado mortal. Eis o que a pessoa recebe do deu amor terno: vive triste, torna-se insuportável a sim mesma. De fato, o próprio Deus permitiu que o afeto desordenado se tornasse insuportável a si mesmo.
O amor divino
Em sentido contrário, todo amor, praticado segundo a vontade divina em união com Deus, traz à pessoa o que existe no Criador, isto é, a máxima doçura. Os servidores de Deus sentem grande prazer, até nos acontecimentos dolorosos e difíceis, pois ao experimentarem a presença de Deus, sentem-se satisfeitos e felizes. Somente Deus pode nos saciar. Deus é mais que nossa alma, maior que todos os seres criados. Tudo o que Deus criou, foi criado para o homem. E o homem foi tirado do nada para amar a Deus de todo o coração, com todo seu afeto. Foi criado para servir a Deus. portanto, os bens terrenos não são capazes de saciar o homem. Mas colocando-os em Deus, a alma humana acha-se em paz e tranquilidade, com o coração aberto para amar a todos na caridade. Então a pessoa procura prestar serviços a todos. Ao auxiliar o próximo, revela o amor que tem por Deus.
E a incontinência sexual?
Sendo Deus a máxima e eterna pureza, a união com ele torna a alma e o corpo participante dessa pureza divina. Assim, alma e corpo conservam-se perfeitamente puros. A pessoa prefere morrer a contaminar-se e manchar a mente e os membros corporais pela impureza. Não que se consiga eliminar os pensamentos e os movimentos carnais. Eles não mancham a alma, a não ser que a vontade consinta. Não havendo consentimento voluntário, não há culpa. Há até merecimento em quem resiste e tira, dos espinheiros, a perfumada rosa da pureza perfeita. Dessa maneira, a pessoa adquire maior conhecimento de si, luta contra a própria fragilidade e amorosamente se refugia no Crucificado, com orações humildade e contínuas, convencida de que não existe outro modo de santificar-se, em tão grandes males. Já dissemos antes. Quanto mais a pessoa se aproxima de Deus, de maior pureza participará. Realmente, a pessoa colhe dessas batalhas uma flor puríssima. O remédio para o terrível mal da impureza na enfraquecida carne e em qualquer situação de pecado é este: aproximar-se de Deus com amor e assemelhar-se a ele.
Olhemos para Jesus Cristo.
Filho caríssimo, não fiquemos parados. O tempo é breve e não nos espera. Nem nós o devemos esperar. Coisa terrível é ficar alguém dormindo no sono de total cegueira, sem acordar. É bem verdade, porém, que para acordar e chegar àquela união com Deus, a alma precisa de uma luz! É a luz da fé, que nos faz conhecer nossa miséria e culpa, faz-nos contemplar com pensamento puro o inefável amor de Deus por nós. Deus manifestou seu amor em seu filho Jesus Cristo, o Verbo. E Jesus deu a conhecer seu amor mediante seu sangue derramado num grande incêndio de amor. Qual jovem enamorado pela humanidade, ele correu para a terrível morte na cruz. Como pode alguém opor resistência ao conhecer tão grande amor?
Filho caríssimo, não fujais dessa luz!
Afastai com esforço a nuvem do egoísmo. Olhai com fé viva para o Cordeiro morto e dilacerado, o qual com muito amor vos chama. Ao dar-lhe resposta, atingireis a perfeita união com Deus. E uma vez unido ao Criador, sentireis o perfume da perfeita pureza. Para combater o vício da impureza é importante refletir sobre a dignidade alcançada, por nossa alma e nosso corpo, quando a natureza humana e a divina se uniram em Jesus Cristo. Envergonhe-se nossa alma! Sirva-lhe de freio, para não cair na impureza, ver-se elevada acima dos coros angélicos. Eu não duvido! Quando vosso pensamento e vosso desejo se elevarem, toda impureza viciada desaparecerá.
Algumas mortificações necessárias
Mas devemos mortificar nosso corpo, dominando-o com vigílias de oração humilde e contínua. Ocorre abraçar-se com a cruz de Cristo e fugir quanto mais possível de encontros com pessoas que vivem lascivamente. Não duvideis! Deus vos concederá uma imensa graça. Mas devereis cortar – não somente desamarrar – os laços acenados. Procurai organizar decididamente vossa vida. Submetei-vos ao jugo da obediência. Assim destruireis vossa vontade pessoal e mortificareis vosso corpo. E experimentareis a garantia da vida eterna. Tenho certeza de que, pelo amor, morareis com Jesus. Vós o fareis. Se não, nada feito!
Conclusão
Eis porque afirmei no início que estava desejosa de vos ver em união de amor com nosso Salvador. Queria que atingísseis a verdadeira pureza e vos libertásseis da paixão (desregrada), que tanto vos faz sofrer. Tenho certeza de que, se agirdes assim, sereis libertado ou ao menos prefirais a morte ao pecado. Banhai-vos no sangue de Cristo crucificado e iniciai uma vida nova, com a esperança de que vossas culpas sejam consumidas na chama do amor. Quero assumir vosso pecados, destruí-los com lágrimas e preces na fornalha da caridade divina. Quero fazer penitência por vós. Uma única coisa vos peço e a ela vos obrigo! Afastai-vos imediatamente do mundo! Dai-lhe um belo chute. Se não o fizerdes, logo o mundo vos chutará. Não oponhais resistência ao Espírito que vos chama. Nada mais acrescento. Permanecei no santo e doce amor de Deus. Jesus doce, Jesus amor.

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