quinta-feira, 17 de setembro de 2015

“Conserva-te puro” - Padre Francisco Faus (Como fortalecer a virtude da castidade)


 GUIA: «CONSERVA-TE PURO»

Entre os conselhos finais que São Paulo dá a Timóteo, na primeira carta que lhe escreveu, está o seguinte: Conserva-te puro – literalmente: “guarda-te casto a ti mesmo” (1Tm 5, 12). E, na segunda carta, exorta-o a se afastar dos homens mais amigos dos prazeres do que de Deus (cf. 2Tm 3,4-5).

Víamos no capítulo anterior que a virtude da castidade é um “tesouro”. Por isso, é preciso guardá-la com vigilância, cuidado e delicadeza.

Como qualquer outra virtude humana, a castidade não surge sozinha (ver Cap. 13 a 15). Deve forjar-se, como o ferro, com o fogo da graça de Deus e o martelar do esforço pessoal.

Meditaremos neste capítulo, a partir de agora, sobre os meios para fortalecer a castidade e fazer com que, ao longo da vida, amadureça cada vez mais.

A força da oração

A oração é um meio imprescindível para levar avante a vida cristã. Santo Afonso de Ligório a chamava «o grande meio de salvação» (título de um belo livro dele).

Poucos aprenderam esta verdade melhor que Santo Agostinho, que teve de lutar heroicamente contra os maus hábitos sensuais quando se aproximava da conversão, e que chegou, por experiência própria, à seguinte conclusão: «Ninguém é casto se Deus não lho concede». Devemos pedir, pois, essa virtude com fé, sem desanimar, por mais que demoremos a consegui-la. Com Deus chegaremos até onde nós, só com nossas forças, nunca teríamos chegado.

Dentro do conceito amplo de “oração” (talvez fosse melhor falar de “meios sobrenaturais”), devem-se colocar, em primeiríssimo lugar, dois Sacramentos: a confissão frequente e a comunhão. A confissão pronta e sincera, todas as vezes que precisarmos dela, torna-se uma força impressionante, que só avaliamos quando a praticamos. E força maior ainda é a da comunhão frequente, recebida com as devidas disposições.

A valentia de “fugir”

Essa expressão está inspirada em São Josemaria Escrivá que, falando das tentações contra a castidade, diz: «Não tenhas a covardia de ser “valente”; foge!» (Caminho, n. 132).

«Bem sabes – explica – que a luta, se a manténs desde o princípio, já está vencida. Afasta-te imediatamente do perigo, logo que percebas as primeiras chispas da paixão, e mesmo antes» (Amigos de Deus, n. 182).

Esse conselho reflete a longa experiência dos santos, desde os começos do Cristianismo. Todos os que assumiram a sério o amor de Deus, compreenderam o profundo significado das seguintes expressões de Cristo, pedagogicamente hiperbólicas: Se teu olho for para ti ocasião de pecado, arranca-o e lança-o fora… E se a tua mão for para ti origem de pecado, corta-a e joga-a fora (Mt 5,29-30).

Essa “coragem de ser covarde”, de cortar logo, de “fugir”, devemos praticá-la com fortaleza, sem nos enganarmos a nós mesmos, sempre que percebamos que entramos numa ocasião de queda; por exemplo, por ficar conversando com uma pessoa que não nos convém; por estamos num ambiente promíscuo e sensual; por fechar-nos num apartamento solitário; por participar de uma festa ou espetáculo impregnado de erotismo, etc. Nestes casos, é preciso cortar, “fugir”, sem nos importarmos com o que “vão dizer”. Isso exige, naturalmente, graça de Deus, fortaleza e coragem.

«Onde não há mortificação, não há virtude»

Ao longo destas páginas temos recordado muitas vezes estas palavras de São Josemaria. Aplicam-se à castidade, como a qualquer outra virtude.

Para cada virtude, as mortificações – as lutas – têm que ser “sob medida”, ou seja, devem ser as adequadas para a defender e desenvolver. Vejamos agora algumas lutas mais fundamentais para o tema que nos ocupa.

A) A mortificação da curiosidade

Os “incentivos” externos para a sensualidade desordenada entram fundamentalmente pelos olhos, e se cozinham na imaginação.

No mundo atual, esses incentivos são constantes. Por toda a parte há uma estimulação artificial e massiva da sensualidade, da fisiologia, da simples genitalidade animal, sem o menor contexto de grandeza e de Amor (pessoas mal vestidas pela rua, outdoors, jornais, revistas, televisão, e especialmente a Internet). É uma oferta contínua de sexo para consumo e prazer egoísta.

Quem estima a dignidade do corpo e do amor, evita mergulhar o olhar nessa nuvem de pornografia. Mortifica a curiosidade, quando aparece a tentação. Guarda os olhos porque quer guardar a alma. Diz “não”, porque está decidido a dizer “sim” a um ideal de amor muito maior que mero prazer carnal. São Gregório Magno (século VII) resumia essa atitude virtuosa dizendo: «Não é lícito olhar para o que não é lícito desejar» (Moralia, 21,2,4).

B) Mortificação da imaginação

Atribui-se a Santa Teresa de Ávila a famosa frase: «A imaginação é a louca da casa».

Com o “combustível” de quedas passadas, de ocasiões mal evitadas, da curiosidade, da concupiscência atiçada por descuidos, é muito fácil que a imaginação, juntamente com a memória, se incendeie com fantasias eróticas, que envolvem a pssoa, que dominam, e chegam a tornar-se – como, aliás, a própria curiosidade – num verdadeiro “transtorno obsessivo-compulsivo”.

Por isso, faz parte da vigilância sadia conquistar o autodomínio da imaginação, evitando deixar-nos arrastar por ela como por uma enxurrada. Também neste ponto o “sim” à virtude, exige saber dizer, com coragem e amor, os “não” sensatos e eficazes.

C) Mortificação da gula

Já falamos dela ao tratar da temperança. O livro Caminho afirma que «A gula é a vanguarda da impureza» (n. 126).

O abade Cassiano, no século V, escrevia no seu manual de espiritualidade, intituladoCollationes: «O primeiro combate que devemos empreender é contra o espírito de gula, contra a concupiscência da excessiva comida e bebida … É preciso frisar que a abstinência corporal não tem outra razão de ser senão conduzir-nos à pureza do coração».

Os excessos na comida, e sobretudo na bebida, insensibilizam a alma, fazem com que a dimensão corporal abafe a espiritual. A idolatria do prazer material do homem, através dos excessos no comer e no beber, puxa para a escravidão do sexo.

Ter o autodomínio suficiente para não cair no capricho de comer e beber a qualquer hora o que nos apetece, e tanto quanto nos apetece, é um ato de liberdade que garante a saúde moral, além de proteger a saúde física.

A devoção a Maria

Finalmente, o grande meio – depois dos Sacramentos – é a devoção filial e confiante à Mãe de Deus e nossa.

Guimarães Rosa põe na boca de Riobaldo, o protagonista de Grande Sertão: Veredas, as seguintes palavras sobre Nossa Senhora: «O perfume do nome da Virgem perdura muito: às vezes dá saldos para uma vida inteira».

Como ajuda invocar o nome de Maria! O que diz Riobaldo é uma verdade, que a experiência espiritual cristã confirma. Quando as tentações contra a castidade se tornam mais fortes e insistentes, invocar filialmente Maria é o melhor caminho para chegar à paz e à vitória. Mãe puríssima, Mãe castíssima, rogai por mim! Quantas vezes esta breve oração tem tido força e sabor de vitória!


Fonte: http://www.padrefaus.org/

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