segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

João de Deus e o valor inestimável da Vida Humana




Não há sinal maior de virilidade do que reconhecer o valor inestimável da vida em todas as suas etapas,desde da Concepção até o seu Alvorecer.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Mortos por não serem homossexuais



Não é a primeira vez que um sistema político imoral tenta impor-se sobre os cristãos e obrigá-los ao silêncio em relação à homossexualidade. Os mártires de Uganda, ainda no século XIX, foram as primeiras vítimas de uma “ditadura gay”.


Os primeiros missionários cristãos a pisarem no atual território de Uganda eram protestantes. Em 1877, eles foram acolhidos por Mutesa, o monarca de "Buganda" – como então era chamado o reino –, ficando livres para expandir a fé cristã em meio à população. A tolerância do Rei era tanta, que os missionários podiam pregar Jesus Cristo entre os próprios membros da sua corte. Mutesa mesmo, no entanto, não estava disposto a abandonar a poligamia – nem a circuncidar-se, como pedia o Islã. Apesar de aberto à pregação de todas as religiões, ele ficaria sem escolher nenhuma.

Dois anos mais tarde, em 1879, era a vez dos católicos serem acolhidos em seu reino: os Missionários da África – ou "Padres Brancos", como eram denominados – também passaram a evangelizar Uganda.

Em suas bocas, estava o discurso inflamado contra as práticas pagãs e supersticiosas dos nativos africanos. Os missionários da época não sacrificavam a fé no altar do "politicamente correto".Aderir a Cristo significava uma ruptura total com o antigo modo de vida, uma completa mudança de mentalidade e de comportamento. Ao aderir àquela "religião estrangeira", os abasomi – como eram chamados os convertidos à fé cristã – não só abandonavam as velhas tradições de suas tribos, como eram considerados "rebeldes" por seus compatriotas.

O martírio de José Mukasa

Um desses conversos, o seminarista católico José Mukasa, era particularmente importante para a evangelização em Buganda. Amigo pessoal tanto de Mutesa quanto de seu filho Mwanga, Mukasa tinha levado a fé a muitos dos jovens pajens que trabalhavam na corte real. A sua posição de influência junto do Rei confirmava ainda mais a sua liderança e eram muitos os que se faziam católicos graças à sua pregação.

No entanto, aproximava-se o dia em que o mordomo real teria de escolher entre Deus e César, entre o amor à Igreja e a lealdade ao Rei.

De fato, tão logo assumiu o trono em lugar de seu pai, Mwanga I demonstrou-se um verdadeiro inimigo da religião cristã. Os seus motivos eram manifestos. Influenciado por más amizades, Mwanga começou a praticar a homossexualidade e, não podendo suportar as críticas da moral cristã a esse comportamento, passou a perseguir sistematicamente os cristãos de Buganda – tanto anglicanos, quanto católicos. Também não lhe agradava a rejeição dos cristãos ao tráfico de escravos, o qual constituía uma importante fonte de recursos para o reino. Para que pudesse agir como bem entendesse, Mwanga tinha tomado uma firme decisão: teria que riscar o cristianismo do mapa de seu reino.

No dia 31 de janeiro de 1885, os jovens anglicanos Makko Kakumba, Yusuf Rugarama e Nuwa Sserwanga foram as primeiras vítimas do rei. Eles foram desmembrados e queimados no povoado de Busega Natete, por ordem do Rei. Não contente com a execução, em outubro do mesmo ano, Mwanga ordenou o assassinato do bispo anglicano James Hannington, alegando "más intenções" por parte do prelado, só por ele ter entrado no reino por uma rota mais curta que a tradicional.

Tamanha barbaridade suscitou a indignação de José Mukasa, que – a exemplo de Natã diante do rei Davi – reprimiu severamente Mwanga, por matar Hannington sem ao menos dar-lhe a oportunidade de defender-se. Outra crítica, todavia, fez acender de vez a cólera real: avesso à homossexualidade do monarca, Mukasa pediu a Mwanga que parasse de compelir os membros da corte às suas imoralidades. De fato, a promiscuidade do rei era insaciável e ele não hesitava em transformar os seus súditos em "parceiros sexuais". Como reação a isso, José não apenas tinha ensinado os rapazes a resistirem, como fez questão de deixá-los longe do alcance do Rei.

Perturbado com as críticas de Mukasa, Mwanga jogou-o na prisão e, no dia 15 de novembro, mandou queimá-lo publicamente, para que servisse de exemplo a todo o povo de Uganda. Antes de morrer, disse ao seu executor: "Um cristão que dá a sua vida a Deus não tem razão para temer a morte. Diga a Mwanga que ele me condenou injustamente, mas eu o perdoo de todo o meu coração." O carrasco ficou tão impressionado que decapitou-o antes de amarrá-lo e queimar o seu corpo.

O massacre de Namugongo

Muitos outros cristãos caíram nas mãos de Mwanga, totalizando um número de 45 mártires (22 deles católicos). A perseguição da Coroa à fé cristã duraria até o dia 27 de janeiro de 1887, com a morte do católico Jean-Marie Muzeeyi. De todas as atrocidades cometidas por Mwanga, porém, a pior de todas foi o massacre de Namugongo, quando 26 cristãos, sob a liderança de São Carlos Lwanga, foram mortos de uma só vez.

Apontado pelo Rei como novo mordomo da corte, Lwanga não demoraria a causar novos problemas à Coroa. Assim como Mukasa, de fato, Carlos sabia ser "necessário antes obedecer a Deus que aos homens" ( At 5, 29). Uma de suas primeiras preocupações à frente do palácio foi justamente proteger os jovens cristãos dos desejos luxuriosos do monarca. Certa vez, um dos pajens se recusou a manter relações sexuais com o soberano. Perguntado qual era o seu motivo, ele respondeu que estava recebendo catequese de um católico. Tomado pela ira, Mwanga chamou o responsável à sua presença, tomou sua lança e decepou a sua cabeça, sem piedade. 26 de maio de 1886, Daniel Ssebuggwawo é a vítima da vez.

Ainda insatisfeito, o Rei convocou toda a corte para o dia seguinte. Carlos Lwanga, prevendo o que haveria de acontecer, deu o sacramento aos quatro catecúmenos que ainda não tinham recebido o Batismo – entre eles, uma criança de 14 anos, chamada Kizito. No outro dia, logo de manhã, Mwanga separou de sua corte todos os cristãos e, depois de pedir inutilmente que abandonassem a sua fé, condenou-os todos à morte.
"Quem dentre vocês não tiver a intenção de rezar, pode ficar aqui ao lado do trono; aqueles, porém, que quiserem rezar, reúnam-se contra aquele muro", teria dito o Rei, na ocasião. Lwanga foi o primeiro a dirigir-se ao muro, seguido por outros tantos. Mwanga, então, perguntou-lhes: "Mas vocês rezam de verdade?", ao que Carlos respondeu: "Sim, meu senhor, nós rezamos e queremos continuar até a morte".

Alguns deles foram mortos ainda naquele mês, como o católico Nowa Mawaggali, que padeceu estraçalhado por cães selvagens. A maioria, porém, estava destinada a morrer em Namugongo, no dia 3 de junho de 1886.

Era uma quinta-feira da Ascensão do Senhor e os prisioneiros, sentenciados à fogueira, estavam tranquilos e alegres diante de seu veredito. A fila de condenados partia ao lugar da execução, rezando bem alto e recitando o Catecismo pelo caminho. O pequeno Kizito simplesmente sorria, como se tudo aquilo não passasse de uma brincadeira. Testemunhas oculares relatavam a alegria e a confiança dos mártires, encorajando uns aos outros, enquanto eram amontoados em uma grande fogueira por seus carrascos.

"Invoque o seu Deus, e veja se ele pode salvá-lo", disse um deles. "Pobre louco", replicou São Carlos Lwanga. "Você está me queimando, mas é como se estivesse derramando água sobre o meu corpo."

Os outros prisioneiros estavam igualmente calmos. Das chamas ardentes, só se ouviam as suas orações e canções, que ressoavam cada vez mais alto. Quem assistiu à execução atesta nunca ter visto ninguém morrendo daquela forma.
"Semente de novos cristãos"

São Carlos Lwanga e os outros 21 mártires católicos de Uganda foram beatificados pelo Papa Bento XV, em 6 de junho de 1920, e canonizados por Paulo VI, em 18 de outubro de 1964.

Recentemente, durante viagem apostólica à África, o Papa Francisco visitou o Santuário dos Mártires de Namugongo e celebrou uma Missa em sua honra. "O testemunho dos mártires mostra a quantos, ontem e hoje, ouviram a sua história que os prazeres mundanos e o poder terreno não dão alegria e paz duradouras", disse o Santo Padre. "São a fidelidade a Deus, a honestidade e integridade da vida e uma autêntica preocupação pelo bem dos outros que nos trazem aquela paz que o mundo não pode oferecer."

Assim como em outros tempos da Igreja, o sangue desses homens valorosos foi um incentivo para a conversão de muitos outros. O reino de terror instaurado por Mwanga não teve o efeito pretendido: ao invés de diminuir, o número de cristãos só aumentou cada vez mais. Realmente, como escreve Tertuliano, " sanguis martyrum semen christianorum – o sangue dos mártires é semente de novos cristãos".

Hoje, Uganda é um país majoritariamente cristão, graças ao exemplo desses jovens mártires, que resistiram a um governo ímpio para guardar a sua fé e a sua castidade. Notoriamente, trata-se do país africano que mais avanços obteve no combate à AIDS, graças a um programa de saúde que envolve principalmente – mais do que a simples distribuição de preservativos – a abstinência e a fidelidade no casamento. O programa já foi elogiado por especialistas e apontado como o mais eficaz na contenção do vírus HIV.

A primeira-dama do país, Janet Museveni, fala abertamente aos universitários sobre a castidade. "Honrem seus corpos como templo de Deus", ela diz. "Não tomem atalhos nem ponham em perigo suas vidas, utilizando meios inventados pelo homem, como os preservativos, e indo contra o plano de Deus para suas vidas."

Para quem teve Mwanga no passado, é alentador ter uma posição tão contundente a favor da moral católica guiando o futuro de Uganda. Que São Carlos Lwanga e seus 21 companheiros mártires sigam intercedendo pela África e por todo o mundo, a fim de que a castidade que os conduziu ao martírio arda no coração dos nossos jovens e também os leve a um testemunho irrepreensível de amor a Cristo.

Por Equipe Christo Nihil Praeponere

Recomendação

FAUPEL, John F. African Holocaust: The Story Of The Uganda Martyrs. Literary Licensing, 260p.

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Sancta Ecclesia em imagem

"Sou devoto de São Pio X"
Papa Francisco

Na foto acima vemos um pouco da devoção do Papa Francisco a esse Grande Santo da Eucaristia que usou de misericórdia ao conceder a recepção da Eucaristia as crianças,assistindo devotadamente a missa no dia 21 de agosto(memória Litirgica) em sua sepultura.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Libera - Far Away




Wherever I go
Far away and anywhere
Time after time you always shine
Through dark of night calling after me

And wherever I climb
Far away and anywhere
You raise me high beyond the sky
Through stormy night lifting me above

Venite spiritu et emitte caelitus
Venite spiritu et emitte caelitus
Venite spiritu, venite spiritus
Far away beyond the sky

Whenever I cry
Far away and anywhere
You hear me call when shadows fall
Your light of hope showing me the way

Venite spiritu et emitte caelitus
Venite spiritu et emitte caelitus
Venite spiritu venite spiri tus
Far away beyond the sky

Tradução

Onde quer que eu vá
Longe e em qualquer lugar
Tempo após o tempo, você sempre brilha
Através da escuridão da noite chamando depois de mim

E onde quer que eu escalo
Longe e em qualquer lugar

Você levanta-me alto, além do céu
através da noite de tempestade, levantando-me acima

Venite Spiritu et emitte caelitus
(Vinde Espírito, e enviai um raio de luz celestial)
Venite Spiritu et emitte caelitus
(Vinde Espírito, e enviai um raio de luz celestial)
Venite Spiritu, Venite Spiritus
(Vinde Espírito, e enviai um raio de luz celestial)
Longe, além do céu

Sempre que eu choro
Longe e em qualquer lugar
Você ouve o meu chamado quando as sombras caem
sua luz de esperança me mostrando o caminho.

Créditos: Letras de músicas (adaptado)

domingo, 22 de novembro de 2015

Santa Missa em imagem.

Quadro do pintor Louis Deveau, intitulado "Uma Missa no mar, 1793". Retrata um período de perseguição religiosa, na qual o culto católico estava proibido -em plena Revolução Francesa-, de forma que tinha que ser realizado no mar ou oculto nos bosques. O autor realizou essa obra em 1864, setenta e um anos depois dos acontecimentos. Encontra-se no Museu de Belas Artes de Rennes, França

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A Liturgia e a Pureza


 Por Luís Augusto Rodrigues Domingues

  INTRODUÇÃO

O conceito de pureza, na teologia católica, está muito ligado a  três frutos do Espírito Santo, segundo São Paulo na Carta aos Gálatas (Gl 5,22-23, de acordo com a edição antiga da Vulgata): modestia, continentia e castitas,  que  na  versão  grega  se  resumem  na  palavra   (egkrateia  –  autodomínio,  autocontrole, temperança) ou na latina continentia (de acordo com a edição nova da Vulgata). Frutos do Espírito são “perfeições que o Espírito Santo forma em nós” (Catecismo da Igreja Católica, 1832), atos virtuosos acompanhados de certa alegria ou suavidade espiritual, diferente de atos de virtude imperfeitos e penosos (cf. Compendio di Teologia Ascetica e Mistica, 1359-1360). Não sendo minha intenção tratar de aspectos muito teológicos, gostaria apenas de apresentar a importância que na Sagrada Liturgia se dá à pureza a fim de manifestar sua urgência na vida cristã e, sobretudo, na vida dos fiéis encarregados de ministérios ligados à Liturgia.

PUREZA NA SAGRADA ESCRITURA

Aparece no Antigo Testamento a  (bor – pureza), por exemplo, num Salmo de Davi, também presente no II Livro de Samuel:  “O Senhor me tratou segundo a minha inocência, retribuiu-me segundo a pureza de minhas mãos (puritatem manuum mearum), porque guardei os caminhos do Senhor e não pequei separando-me do meu Deus. Tenho diante dos olhos todos os seus preceitos e não me desvio de suas leis. Ando irrepreensivelmente diante dele, guardando-me do meu pecado. O Senhor retribuiu-me segundo a minha justiça, segundo a pureza de minhas mãos diante dos seus olhos. Com quem é bondoso vos mostrais bondoso, com o homem íntegro vos mostrais íntegro; puro com quem é puro; prudente com quem é astuto” (Sl 17/18,21-27). Este trecho é rezado na Salmodia do Ofício das Leituras da quarta-feira da I Semana do Saltério (na Forma Ordinária do Ofício Divino). Seu significado pode ser muito extenso, mas algo dele se descobre por exclusão daquilo que se revela como  (tum’ah - impureza): no contexto da sexualidade e no contexto religioso, da doutrina e das práticas. No Evangelho segundo São Mateus há uma bela promessa de nosso Senhor, à qual retornaremos mais abaixo: “Bem-aventurados os puros de coração (καθαροι τη καρδια/mundo corde), porque verão Deus!” (Mt 5,8) Para não ser exaustivo, passo diretamente para a impureza (immunditia) citada nas exortações de São Paulo, que muitas vezes é a tradução de duas palavras:  (akatharsia) e  (porneia). Akatharsia  significa  mais  literalmente  a  impureza  do  contexto  ritual.  Porneia  já  vem  do  verbo  vender,  e refere-se mais diretamente à prostituição e aos pecados do âmbito sexual (ex: fornicação, entendida como a relação sexual de pessoas não casadas). Com mais um terceiro termo, (aselgeia – libertinagem, luxúria, licenciosidade), formam as três das primeiras obras da carne (fornicatio, immunditia, luxuria, ou seja, fornicação, impureza e libertinagem), contrárias aos frutos do Espírito. Sendo  assim,  quero  referir-me  principalmente  à  pureza  como  o  antônimo  destas  últimas  coisas  e  como sinônimo daquelas primeiras.

PUREZA NAS ORAÇÕES DO MISSAL ROMANO


Não tendo feito uma pesquisa exaustiva do pedido de pureza nas orações do Missal, seja na Forma Ordinária ou  Extraordinária  do  Rito  Romano,  passemos  para  algumas  orações  mais  conhecidas  e  que  tratam  mais diretamente disto. O  primeiro  lugar  é  a  Præparatio  ad  Missam,  que  inclui  as  Orationes  dicendæ  cum  sacerdos  induitur sacerdotalibus paramentis. Naquela preparação (Forma Extraordinária) temos duas das sete orações, após os cinco salmos, que dizem: Deus,  cui  omne  cor  patet  et  omnis  volúntas  lóquitur,  et  quem  nullum  latet  secrétum:  purífica  per infusiónem Sancti Spíritus cogitatiónes cordis nostri; ut te perfécte dilígere et digne laudáre mereámur. (Ó Deus, que vedes nos refolhos do nosso coração e a quem não escapa o mais secreto movimento da nossa vontade, purificai os pensamentos da nossa alma com a efusão do Espírito Santo, a fim de que vos mereçamos amar perfeitamente e dignamente louvar.


“Ure igne Sancti Spíritus renes nostros et cor nostrum, Dómine: ut tibi casto córpore serviámus, et mundo corde placeámus”. (Queimai, Senhor, com o fogo do Espírito Santo o nosso coração e os nossos rins, e fazei que vos sirvamos castamente e vos agrademos pela pureza do nosso coração.)
 Percebe-se que a Deus se pede não somente a pureza do corpo, mas a pureza do coração, de que a primeira depende  e  é  consequência,  como  disse  o  Senhor:  “Porque  é  do  coração  (de  corde)  que  provêm  os  maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias” (Mt 15,19).
 Das orações para quando o sacerdote se paramenta, a que acompanha o cíngulo (o cordão que se amarra em volta da cintura para ajustar a alva e prender a estola) realça aqueles frutos do Espírito:
"Præcínge me, Dómine, cíngulo puritátis, et exstíngue in lumbis meis humórem libídinis; ut máneat in me virtus continéntiæ et castitátis”. (Cingi-me, Senhor, com o cíngulo da pureza e extingui em meus rins o fogo da paixão, para que resida em mim a virtude da continência e da castidade.)

Logo depois, no Ordo Missæ (Forma Extraordinária), poder-se-ia citar a oração do sacerdote ao subir ao altar: “Aufer  a  nobis,  quǽsumus,  Dómine,  iniquitátes  nostras:  ut  ad  Sancta  Sanctórum  puris  mereámur méntibus introíre”. (Afastai de nós, Senhor, vos pedimos, as nossas iniquidades, a fim de merecermos entrar de alma pura no Santo dos Santos.) Também a oração do sacerdote antes de proclamar o Evangelho: “Munda cor meum ac lábia mea, omnípotens Deus, qui lábia Isaíæ prophétæ cálculo mundásti igníto: ita me tua grata miseratióne dignáre mundáre, ut sanctum Evangélium tuum digne váleam nuntiáre”. (Purificai-me, Deus onipotente, o coração e os lábios, vós que purificastes os lábios do profeta Isaías com um carvão em brasa; pela vossa misericordiosa bondade. Dignai-vos purificar-me, de modo a tornar-me capaz de proclamar dignamente o vosso santo Evangelho.) A pureza, de um modo geral, é pedida igualmente após a Comunhão, enquanto se faz a ablução dos vasos sagrados: “Quod  ore  súmpsimus,  Dómine,  pura  mente  capiámus:  et  de  múnere  temporáli  fiat  nobis  remédium sempitérnum”. “Corpus tuum, Dómine, quod sumpsi, et Sanguis, quem potávi, adhǽreat viscéribus meis: et præsta; ut in me non remáneat scélerum mácula, quem pura et sancta refecerunt sacramenta”. (Com pureza de alma recebamos, Senhor, o que em nossa boca tomamos. Este dom, que nos foi concedido no tempo, remédio nos seja para a eternidade. O vosso Corpo, Senhor, que eu comi e o vosso Sangue que eu bebi se unam às minhas entranhas; refeito que fui com estes puros e santos sacramentos, fazei que em mim não fique mancha alguma de pecado.)

A Gratiarum actio post Missam(Ação de graças após a missa)  também nos  apresenta tal pedido em algumas orações  (a primeira de  São Tomás de Aquino, a segunda do Papa Clemente XI e a terceira a São José): “[Hæc sancta Commúnio] sit vitiórum meórum evacuátio, concupiscéntiæ et libídinis exterminátio”. ([Esta santa Comunhão] extinga na minha alma os vícios, o ardor da concupiscência e o desejo das coisas que degradam.) “[Fac,  Dómine,]  curem  habére  innocéntiam  interiórem,  modéstiam  exteriórem,  conversatiónem exemplárem, vitam regularem”. ([Fazei,  Senhor,]  que  eu  procure  possuir  pureza  de  coração  e  modéstia  de  costumes,  um  procedimento exemplar e uma vida reta.) “Te per hoc utrúmque caríssimum pignus Iesum et Maríam óbsecro et obtéstor, ut me, ab omni immundítia præservátum, mente incontamináta, puro corde et casto córpore Iesu et Maríæ semper fácias castíssime famulári”. (Em nome de Jesus e de Maria, desse duplo tesouro que vos foi tão caro, vos suplico que me conserveis isento de toda a impureza, para que, com espírito puro e corpo casto, sempre sirva fielmente a Jesus e a Maria.)

A PROMESSA DE DEUS AOS PUROS DE CORAÇÃO

Conforme dito bem mais acima, retornemos à promessa do Senhor: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!” (Mt 5,8)Esta promessa vem de encontro ao desejo do salmista: “Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei contemplar a face de Deus?” (Sl 41/42,3), desejo este também nosso, sobretudo na Vigília Pascal (Forma Ordinária) e nas Laudes da segunda-feira da II Semana do Saltério, quando rezamos este Salmo. Sendo uma das bem-aventuranças, a pureza de coração consiste em atos, que parecem proceder mais dos dons do Espírito do que das virtudes, e é um meio eficacíssimo para se alcançar a bem-aventurança eterna, porque faz parte da perfeita imitação de Cristo, e porque por ela se dão grandes passos no caminho da perfeição (cf. Compendio di Teologia Ascetica e Mistica, 1361).

 CONCLUSÃO

A pureza de coração, os frutos do Espírito relacionados à pureza (modéstia, continência e castidade, resumidos na continentia ou egkrateia) são necessários para quem procura fazer “a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito” (Rm 12,2). Se os sinais sensíveis da Liturgia significam e realizam a santificação do homem e nela a Igreja presta culto a Deus, a pureza pedida (e também exigida) certamente fica mais próxima de ser alcançada através desta grande obra de Cristo, na qual ele sempre associa a si a Igreja, sua esposa muito amada. Consideremos, portanto, que a participação na Liturgia é indispensável para que se consiga a pureza na vida cristã, para podermos ver a face de Deus, pois sabemos que “Cristo realiza a nossa salvação cada dia nos sacramentos e no seu sacrifício e, por meio deles, purifica continuamente e consagra a Deus o gênero humano” (Encíclica Mediator Dei, 26). Por outro lado, o da exigência, aos que já exercem ministérios na Liturgia da Igreja, sejam bispos, presbíteros ou diáconos, acólitos ou leitores, pessoas instituídas nas ordens menores, cerimoniários, coroinhas, cantores, instrumentistas, leitores, sacristãos, ministros extraordinários da comunhão eucarística, comentaristas, etc., a pureza se torna uma meta especial a ser alcançada, uma marca pela qual se deve distinguir nossa vida. Pouco  a  pouco  nos  tornaremos  mais  semelhantes a  nosso  Senhor,  que  sobre  o  altar  é  oferecido,  o  qual  o sacerdote, no Cânon Romano, declara ser “a hóstia pura, a hóstia santa, a hóstia imaculada”. Tudo isto faz-me lembrar de uma frase do Servo de Deus Pe. João Baptista Reus, SJ, que, embora se relacione à santidade de um modo geral, aplico aqui reclamando uma ênfase implícita à pureza na vida de todos os que exercem ministérios na Sagrada Liturgia:  
“Quão santa não há de ser minha vida só por causa da Santa Missa...”

Fonte: GloriaTv

Padre Daniel Pinheiro IBP - O combate pela virtude da castidade [Sermão]


“Tudo o que fizerdes, em palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus Cristo, dando por Ele graças a Deus Pai.”

Na parábola de hoje, NS diz que, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo e semeou cizânia no meio do trigo e foi-se. Entre a cizânia semeada, podemos destacar o pecado da impureza, que tão grande mal faz às almas e à sociedade e que abunda na sociedade, em todos os meios. Diz o Santo Cura d’Ars que nenhum pecado destrói tão rapidamente a alma quanto esse pecado vergonhoso que nos tira da mão de Deus e nos joga na lama. São Tomás de Aquino diz algo semelhante: pela luxúria ou impureza somos afastados ao máximo de Deus. Os santos não estão dizendo aqui que o pecado da impureza é, em si mesmo, o pecado mais grave. O pecado de ódio a Deus ou um pecado contra a fé são em si mais graves, por exemplo. Todavia, os santos dizem que a impureza afasta mais de Deus que outros pecados em virtude da dificuldade em emendar-se quando se contrai o mau hábito de cair nesses pecados vergonhosos. Levado pela ferida do pecado original, o ser humano se deixa escravizar facilmente por esse pecado. E daí vêm consequências gravíssimas. Sobre as consequências drásticas desse pecado para uma alma e para a sociedade, sobre as filhas da luxúria ou impureza, falamos em um importante sermão nos dias do carnaval. Não custa enumerar essas consequências novamente. O vício da impureza gera: cegueira de espírito, precipitação, inconsideração, inconstância, amor desordenado de si mesmo, ódio a Deus, apego à vida presente, desespero com relação à salvação. A luxúria, por tudo isso, leva também a pessoa a perder a fé, a desprezar as verdades reveladas e a se obstinar no pecado, esquecida do juízo e do inferno. Para fazer uma alma perder a fé, é muitas vezes mais eficaz fazê-la se afundar na luxúria do que combater a fé diretamente. As músicas sensuais pelas letras e ritmos, filmes, roupas indecentes, etc., contribuem muitíssimo para a perda da fé sem atacá-la diretamente. Os que combatem a Igreja sabem muito bem disso. Podemos citar ainda, entre as filhas da luxúria, o aborto, que é assassinato, e a eutanásia, que é suicídio ou assassinato. A luxúria leva ao aborto porque as pessoas querem satisfazer suas paixões desordenadas sem responsabilidade. Leva à eutanásia porque se a pessoa já não pode aproveitar a vida, melhor que morra. Quantos males gravíssimos e quantas calamidades espirituais são causados pela busca de um prazer desordenado instantâneo, passageiro. Se de nada vale ao homem ganhar o mundo inteiro, se ele vier a perder a sua alma, o quanto vale ao homem cometer tão vergonhoso e torpe pecado, que lhe faz perder o céu e merecer o inferno? Diz Santo Afonso que, entre os adultos, poucos se salvam por causa desse pecado. Ele dizia isso no século XVIII. Podemos imaginar a situação em nossos dias… Por tão pouca e vergonhosa coisa.

Tendo, então, uma breve ideia das consequências desse pecado, procuremos os meios para adquirir ou avançar na virtude oposta a esse vício, quer dizer, na virtude da castidade. A virtude da castidade é a virtude derivada da virtude de temperança que nos faz ordenar o apetite venéreo conforme a razão iluminada pela fé, que reconhece que isso se reserva aos cônjuges no bom uso do matrimônio, isto é, sem que a procriação seja impedida, podendo, nesse caso, ser verdadeiramente um ato meritório diante Deus. Nossa razão reconhece que esse ato é ordenado à procriação e subsequente educação dos filhos, que se deve fazer dentro de um matrimônio indissolúvel.

Para que possa haver castidade, é preciso que haja primeiro, nos diz São Tomás, a vergonha e a honestidade. A vergonha é o sentimento louvável de temer a desonra e a confusão que são consequência de um pecado torpe. A honestidade é o amor à beleza que provém da prática da virtude. Devemos ter essa vergonha e essa honestidade. Outra raiz da pureza é a modéstia no nosso exterior, no falar, nos modos, no vestir, etc. Sem a modéstia, a pureza será impossível para nós e seremos também causa da queda dos outros.

Colocadas essas bases, para alcançar a castidade, é preciso também rezar muitíssimo, pedindo essa graça. Rezar, sobretudo, para Nossa Senhora, Mãe Castíssima, que sabe ensinar a seus filhos a castidade. A devoção das três Ave-Marias quando se acorda e antes de dormir, pedindo a graça da pureza é muito eficaz para se adquirir a pureza ou para perseverar nela. Também a devoção a São José é muito eficaz no combate pela pureza, pela castidade, sobretudo para os homens. São José ensina aos homens a verdadeira virilidade, que consiste em ter o domínio sobre suas paixões. O homem que se deixa levar pelas paixões, pela impureza é considerado em nossa sociedade decadente como viril. Ora, esse homem é, ao contrário, efeminado, pois efeminado, tecnicamente, é aquele que se deixa levar pelas paixões, pelas más inclinações, que não tem força para combatê-las e vencê-las, em virtude da tristeza e das dificuldades que existem na prática da virtude. Portanto, a devoção a São José vai nos ensinar a verdadeira virilidade, que consiste na castidade. Como diz o Salmo (30, 25): Agi com virilidade e fortalecei o vosso coração, vós que esperais no Senhor. Viriliter agite et confortetur cor vestrum qui speratis in Domino. Invocar o nome de Jesus, Maria e José é de uma eficácia particular para se obter a pureza.

Para sermos castos, é preciso também mortificar os sentidos, sobretudo os olhos. Jó fez um pacto com seus olhos para não olhar para as moças e, assim, se manteve casto. Evitar a vã curiosidade, não parar os olhos em algo que possa suscitar maus pensamentos ou imaginações. E, justamente, é preciso mortificar nossa imaginação, controlando-a, ordenando-a.

É preciso evitar também as ocasiões de pecado, isto é, os ambientes, as pessoas, as coisas, as circunstâncias que podem levar a pecados contra a pureza. Muito cuidado é necessário no namoro ou no noivado. Namorados e noivos devem estar sempre em locais públicos que lhes impeçam de cometer pecados contra a pureza. Devem evitar andar de carro sozinhos, por exemplo. Namoro e noivado devem durar entre um e dois anos, tempo suficiente para conhecer a alma do outro, e que impede o surgimento de familiaridades indevidas. Bastaria um beijo apaixonado para haver um pecado grave entre namorados e noivos (conforme decreto do Santo Ofício de 1666, sob o Papa Alexandre VII). Os pecados contra a pureza aqui prejudicam também o correto juízo que se deve fazer da alma do outro, de suas qualidades e defeitos, a fim de saber se é possível ou não viver uma vida inteira com a pessoa… Levada pelos sentimentos e paixões, o julgamento será falseado.

Outra ocasião de pecado muito séria hoje é o computador, a internet. Deve-se usar a internet com um objetivo preciso, definido, fazendo uma oração antes ou depois. Quem navega à toa na internet dificilmente se preserva de pecado nessa matéria. Redes sociais também são grande fonte de perigo. Se uma pessoa já caiu várias vezes por meio de internet, reze antes de usá-la, coloque uma imagem de Nosso Senhor ou Nossa Senhora perto, para lembrar a presença de Deus, utilize o computador em local público, a que outras pessoas têm acesso. Se nada disso adianta, a solução é simples: renunciar à internet, ao menos temporariamente: mais vale entrar no céu sem internet do que com a internet ser condenado eternamente. O mesmo vale para TV, filmes e coisas do gênero. É preciso lembrar-se sempre de que o mais oculto dos pecados são conhecidos por Deus e serão conhecidos por todos no dia do juízo. É preciso fugir das ocasiões de pecado. Como diz São Felipe Neri, na guerra contra esse vício, os vitoriosos são os covardes, quer dizer, aqueles que fogem das ocasiões de pecado.

Além da oração, da mortificação dos sentidos e da fuga das ocasiões, é preciso evitar a ociosidade. A ociosidade é mãe de inúmeros pecados, a começar pela impureza. O Rei Davi pecou cometendo adultério e homicídio porque em um momento de ociosidade olhou para a mulher do próximo.

É preciso também mortificar-se, fazendo penitências, jejuns, abstinência de carne. Devemos começar observando a penitência da sexta-feira imposta pela Igreja, procurando fazê-la do modo tradicional, quer dizer, nos abstendo de carne. As mortificações facilitam o domínio da razão e da vontade sobre as paixões. É preciso mortificar-se em coisas lícitas para aprender a vencer a si mesmo na hora da tentação. É preciso, de modo particular, ter muita sobriedade no beber álcool.

No combate pela castidade, é preciso se aproximar dos sacramentos com assiduidade. É preciso se confessar com frequência não só depois da queda, mas também para evitá-la. Aqueles que têm o vício da luxúria ou impureza devem procurar a confissão uma vez por semana, ou pelo menos uma vez a cada duas semanas. É preciso comungar com frequência, estando em estado de graça, para evitar quedas futuras. Com o método preventivo e não só curativo, se impede que o pecado lance raízes mais profundas.

É preciso também pensar no inferno, na condenação eterna que se merece por tão pouca coisa, por algo tão passageiro e instantâneo. Perde-se o céu, se merece o inferno, se crucifica NS novamente por pecado tão torpe. Usar dessa faculdade fora do matrimônio, nos assemelha aos animais brutos, irracionais. Como diz São Tomás, o impuro não vive segundo a razão. Portanto, é preciso pensar no inferno e na nossa morte, da qual não sabemos o dia nem a hora. Não devemos adiar nossa conversão. Pode ser que Deus não nos dê a graça da conversão depois. É preciso aproveitá-la agora.

Na hora da tentação propriamente dita, é preciso rezar, em particular invocando o nome de Jesus, Maria e José e pensar em outra coisa, distrair o pensamento com algo bom, lícito, ainda que sem importância, como enumerar as capitais dos estados, por exemplo. O importante é que ocupemos a imaginação e o pensamento com outra coisa. É preciso cortar a tentação imediatamente. Se cair, procurar levantar-se imediatamente, buscando a confissão com verdadeiro arrependimento e propósito de emenda. Existe uma tendência em desmoronar depois da primeira queda, cometendo outros pecados. Isso agrava muitíssimo as coisas, multiplicando os pecados, as penas, solidificando o mau hábito, dificultando tremendamente a conversão.

Quem tem o vício da impureza não deve desesperar, mas deve se apoiar em Deus, em Nossa Senhora, nos anjos e santos e aplicar os meios que mencionamos com muita determinação. Não basta um eu quisera, um eu gostaria. Não, tem que ser um eu quero firme, disposto a empregar os meios necessários para atingir o fim buscado, que é a pureza. Ao ser humano pode parecer impossível livrar-se de tal pecado uma vez que se contraiu o vício e, de fato, não é fácil. Mas com Deus é perfeitamente possível. Quem realmente quer se livrar desse vício e se apoia em Deus, consegue ter uma vida pura. Aqueles que não têm o vício devem continuar vigiando e orando, desconfiando de si, pois se acharem que estão imunes a tais pecados, cairão.

Combater pela pureza é necessário. Devemos fazê-lo com determinação e rezando muito. Diz Santo Agostinho que nessa espécie de pecado a batalha é onipresente, mas que a vitória é rara. Mas bem determinados, vigiando, rezando, empregando os meios que citamos, é plenamente possível. E que grande liberdade nos dá a castidade, que grande alegria viver segundo a razão e a fé.

Dirijo-me agora aos pais e aos que ajudam na educação das crianças. Os pais devem vigiar e favorecer a pureza dos filhos desde a mais tenra idade, para que adquiram a vergonha e a honestidade, para que sejam modestos no falar, nos modos, nas vestes… Cabe aos pais evitar que os filhos adquiram maus hábitos nesse campo, ainda que os filhos não entendam a malícia do que estão fazendo, pois depois não conseguirão se livrar do vício. Cuidado pais, cuidado com as crianças. Vejamos o que diz Pio XII: “Por desgraça, diz o Papa, às vezes acontece que pais cristãos com tantos cuidados na educação de um filho ou de uma filha, que são mantidos sempre longe dos perigosos prazeres e das más companhias, de repente vêem os filhos, com a idade de 18 ou 20 anos, vítimas de miseráveis e escandalosas quedas: o bom grão que semearam foi arruinado pela cizânia. Quem foi o inimigo do homem que fez tanto mal? O que ocorreu, continua o Papa, foi que no próprio lar, nesse pequeno paraíso, se introduziu furtivamente o tentador, o inimigo astuto, e encontrou ali o fruto corruptor para oferecer a mãos inocentes. Um livro deixado por acaso na mesa do pai foi o que destruiu no filho a fé de seu batismo, um romance abandonado no sofá ou no quarto pela mãe foi o que ofuscou na filha a pureza de sua primeira comunhão.” Até aqui o Papa. A cizânia pode entrar ao se folhearem revistas de notícias ou jornais largados na casa. A cizânia pode entrar pela televisão por um trecho do jornal televiso a que a criança assistiu por acaso. Vigiem, pais, vigiem pela alma dos filhos. Por favor, mantenham-nos longe da internet e de tablets e ipads, em que podem acessar verdadeiramente qualquer coisa. Eles já vêem tanta coisa ruim fora de casa. Que ao menos dentro dela eles possam encontrar a pureza e a virtude, a começar pelo exemplo dos pais.

De que vale ganhar o mundo inteiro se viermos a perder a nossa alma? De que vale uma satisfação instantânea, fugaz, e que nos faz perder o céu, merecer o inferno e que crucifica novamente NS? Confiando em Deus, desconfiando de nós mesmos, com uma determinação muito determinada, sejamos castos e puros conforme o nosso estado de vida.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo Amém.

Fonte: Missa Tridentina em Brasília

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A caridade: eficaz Remédio aos erros modernos


Créditos a página: Fidelitas Christo et Ecclesia

A Catequização na nova evangelização



Evangelii Nuntiadi do Sumo Pontífice Paulo VI, Parágrafo 44
"Um dos aspectos que não deve ser descuidado na evangelização, é a do ensino Catequético. A inteligência, especialmente a inteligência das crianças e a dos adolescentes, tem necessidade de aprender, mediante um sistemático ensino Religioso, os dados fundamentais, o conteúdo vivo da verdade que Deus nos quis transmitir, e que a Igreja procurou exprimir de maneira cada vez mais rica, no decurso de sua História."

Catecismo da Igreja Católica - O Sexto Mandamento

ARTIGO 6
O SEXTO MANDAMENTO
«Não cometerás adultério» (Ex 20, l4) (82).
«Ouvistes que foi dito: "Não cometerás adultério". Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração» (Mt 5, 27-28).
I. «Homem e mulher os criou»...

2331. «Deus é amor e vive em Si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Ao criar a humanidade do homem e da mulher à sua imagem [...] Deus inscreveu nela a vocaçãopara o amor e para a comunhão e, portanto, a capacidade e a responsabilidade correspondentes» (83).
«Deus criou o homem à sua imagem; [...] homem e mulher os criou» (Gn 1, 27); «Crescei e multiplicai-vos» (Gn 1, 28); «Quando Deus criou o ser humano, fê-lo à semelhança de Deus. Criou-os homem e mulher e abençoou-os; e chamou-lhes «Adão» no dia em que os criou»(Gn 5, 1-2).

2332. A sexualidade afecta todos os aspectos da pessoa humana, na unidade do seu corpo e da sua alma. Diz respeito particularmente à afectividade, à capacidade de amar e de procriar, e, de um modo mais geral, à aptidão para criar laços de comunhão com outrem.

2333. Compete a cada um, homem e mulher, reconhecer e aceitar a sua identidade sexual. A diferença e a complementaridade físicas, morais e espirituais orientam-se para os bens do matrimónio e para o progresso da vida familiar. A harmonia do casal e da sociedade depende, em parte, da maneira como são vividos, entre os sexos, a complementaridade, a necessidade mútua e o apoio recíproco.

2334. «Ao criar o ser humano homem e mulher, Deus conferiu a dignidade pessoal, de igual modo ao homem e à mulher» (84). «O homem é uma pessoa; e isso na mesma medida para o homem e para a mulher, porque ambos são criados à imagem e semelhança dum Deus pessoal» (85).

2335. Cada um dos dois sexos é, com igual dignidade, embora de modo diferente, imagem do poder e da ternura de Deus. A união do homem e da mulher no matrimónio é um modo de imitar na carne a generosidade e a fecundidade do Criador: «O homem deixará o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne» (Gn 2, 24). Desta união procedem todas as gerações humanas (86).

2336. Jesus veio restaurar a criação na pureza das suas origens. No sermão da montanha, interpreta de modo rigoroso o desígnio de Deus:
«Ouvistes que foi dito: "Não cometerás adultério". Eu, porém, digo-vos: Todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração» (Mt 5, 27-28). Não separe o homem o que Deus uniu (87).
A Tradição da Igreja entendeu o sexto mandamento como englobando o conjunto da sexualidade humana.

II. A vocação à castidade

2337. A castidade significa a integração conseguida da sexualidade na pessoa, e daí a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual. A sexualidade, na qual se exprime a pertença do homem ao mundo corporal e biológico, torna-se pessoal e verdadeiramente humana quando integrada na relação de pessoa a pessoa, no dom mútuo total e temporalmente ilimitado, do homem e da mulher.
A virtude da castidade engloba, portanto, a integridade da pessoa e a integralidade da doação.

A INTEGRIDADE DA PESSOA

2338. A pessoa casta mantém a integridade das forças de vida e de amor em si depositadas. Esta integridade garante a unidade da pessoa e opõe-se a qualquer comportamento susceptível de a ofender. Não tolera nem a duplicidade da vida, nem a da linguagem (88).

2339. A castidade implica uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar por elas e torna-se infeliz (89). «A dignidade do homem exige que ele proceda segundo uma opção consciente e livre, isto é, movido e determinado por uma convicção pessoal e não sob a pressão de um cego impulso interior ou da mera coacção externa. O homem atinge esta dignidade quando, libertando-se de toda a escravidão das paixões, prossegue o seu fim na livre escolha do bem e se procura de modo eficaz e com diligente iniciativa os meios adequados» (90).

2340. Aquele que quiser permanecer fiel às promessas do seu Baptismo e resistir às tentações, terá o cuidado de procurar os meios: o conhecimento de si, a prática duma ascese adaptada às situações em que se encontra, a obediência aos mandamentos divinos, a prática das virtudes morais e a fidelidade à oração. «A continência, na verdade, recolhe-nos e reconduz-nos àquela unidade que tínhamos perdido, dispersando-nos na multiplicidade» (91).

2341. A virtude da castidade gira na órbita da virtude cardial da temperança, a qual visa impregnar de razão as paixões e os apetites da sensibilidade humana.

2342. O domínio de si é uma obra de grande fôlego. Nunca poderá considerar-se total e definitivamente adquirido. Implica um esforço constantemente retomado, em todas as idades da vida (92); mas o esforço requerido pode ser mais intenso em certas épocas, como quando se forma a personalidade, durante a infância e a adolescência.

2343. A castidade conhece leis de crescimento e passa por fases marcadas pela imperfeição, muitas vezes até pelo pecado. O homem virtuoso e casto «constrói-se dia a dia com as suas numerosas decisões livres. Por isso, conhece, ama e cumpre o bem moral segundo fases de crescimento» (93).

2344. A castidade representa uma tarefa eminentemente pessoal; implica também um esforço cultural, porque existe «interdependência entre o desenvolvimento da pessoa e o da própria sociedade» (94). A castidade pressupõe o respeito pelos direitos da pessoa, particularmente o de receber uma informação e educação que respeitem as dimensões morais e espirituais da vida humana.

2345. A castidade é uma virtude moral. Mas é também um dom de Deus, uma graça, um fruto do trabalho espiritual (95). O Espírito Santo concede a graça de imitar a pureza de Cristo (96) àquele que regenerou pela água do Baptismo.

A INTEGRALIDADE DO DOM DE SI

2346. A caridade é a forma de todas as virtudes. Sob a sua influência, a castidade aparece como uma escola de doação da pessoa. O domínio de si ordena-se para o dom de si. A castidade leva quem a pratica a tornar-se, junto do próximo, testemunha da fidelidade e da ternura de Deus.

2347. A virtude da castidade expande-se na amizade. Indica ao discípulo o modo de seguir e imitar Aquele que nos escolheu como seus próprios amigos (97), que Se deu totalmente a nós e nos faz participar da sua condição divina. A castidade é promessa de imortalidade.
A castidade exprime-se especialmente na amizade para com o próximo. Desenvolvida entre pessoas do mesmo sexo ou de sexos diferentes, a amizade representa um grande bem para todos. Conduz à comunhão espiritual.

OS DIVERSOS REGIMES DA CASTIDADE

2348. Todo o baptizado é chamado à castidade. O cristão «revestiu-se de Cristo» (98), modelo de toda a castidade. Todos os fiéis de Cristo são chamados a levar uma vida casta, segundo o seu estado de vida particular. No momento do seu Baptismo, o cristão comprometeu-se a orientar a sua afectividade na castidade.

2349. «A castidade deve qualificar as pessoas segundo os seus diferentes estados de vida: uns, na virgindade ou celibato consagrado, forma eminente de se entregarem mais facilmente a Deus com um coração indiviso: outros, do modo que a lei moral para todos determina, e conforme são casados ou solteiros» (99). As pessoas casadas são chamadas a viver a castidade conjugal; as outras praticam a castidade na continência:
«Existem três formas da virtude da castidade: uma, das esposas: outra, das viúvas; a terceira, da virgindade. Não louvamos uma com exclusão das outras. [...] É nisso que a disciplina da Igreja é rica» (100).
2350. Os noivos são chamados a viver a castidade na continência. Eles farão, neste tempo de prova, a descoberta do respeito mútuo, a aprendizagem da fidelidade e da esperança de se receberem um ao outro de Deus. Reservarão para o tempo do matrimónio as manifestações de ternura específicas do amor conjugal. Ajudar-se-ão mutuamente a crescer na castidade.

AS OFENSAS À CASTIDADE

2351. A luxúria é um desejo desordenado ou um gozo desregrado de prazer venéreo. O prazer sexual é moralmente desordenado quando procurado por si mesmo, isolado das finalidades da procriação e da união.

2352. Por masturbação entende-se a excitação voluntária dos órgão genitais, para daí retirar um prazer venéreo. «Na linha duma tradição constante, tanto o Magistério da Igreja como o sentido moral dos fiéis têm afirmado sem hesitação que a masturbação é um acto intrínseca e gravemente desordenado». «Seja qual for o motivo, o uso deliberado da faculdade sexual fora das normais relações conjugais contradiz a finalidade da mesma». O prazer sexual é ali procurado fora da «relação sexual requerida pela ordem moral, que é aquela que realiza, no contexto dum amor verdadeiro, o sentido integral da doação mútua e da procriação humana» (101).
Para formar um juízo justo sobre a responsabilidade moral dos sujeitos, e para orientar a acção pastoral, deverá ter-se em conta a imaturidade afectiva, a força de hábitos contraídos, o estado de angústia e outros factores psíquicos ou sociais que podem atenuar, ou até reduzir ao mínimo, a culpabilidade moral.

2353. A fornicação é a união carnal fora do matrimónio entre um homem e uma mulher livres. É gravemente contrária à dignidade das pessoas e da sexualidade humana, naturalmente ordenada para o bem dos esposos, assim como para a geração e educação dos filhos. Além disso, é um escândalo grave, quando há corrupção dos jovens.

2354. A pornografia consiste em retirar os actos sexuais, reais ou simulados, da intimidade dos parceiros, para os exibir a terceiras pessoas, de modo deliberado. Ofende a castidade, porque desnatura o acto conjugal, doação íntima dos esposos um ao outro. É um grave atentado contra a dignidade das pessoas intervenientes (actores, comerciantes, público), uma vez que cada um se torna para o outro objecto dum prazer vulgar e dum lucro ilícito. E faz mergulhar uns e outros na ilusão dum mundo fictício. É pecado grave. As autoridades civis devem impedir a produção e a distribuição de material pornográfico.

2355. A prostituição é um atentado contra a dignidade da pessoa que se prostitui, reduzida ao prazer venéreo que dela se tira. Quem paga, peca gravemente contra si mesmo: quebra a castidade a que o obriga o seu Baptismo e mancha o seu corpo, que é templo do Espírito Santo (102). A prostituição constitui um flagelo social. Envolve habitualmente mulheres, mas também homens, crianças ou adolescentes (nestes dois últimos casos, o pecado duplica com o escândalo). É sempre gravemente pecaminoso entregar-se à prostituição; mas a miséria, a chantagem e a pressão social podem atenuar a imputabilidade do pecado.

2356. A violação designa a entrada na intimidade sexual duma pessoa à força, com violência. É um atentado contra a justiça e a caridade. A violação ofende profundamente o direito de cada um ao respeito, à liberdade e à integridade física e moral. Causa um prejuízo grave, que pode marcar a vítima para toda a vida. É sempre um acto intrinsecamente mau. É mais grave ainda, se cometido por parentes próximos (incesto) ou por educadores contra crianças a eles confiadas.

CASTIDADE E HOMOSSEXUALIDADE

2357 A homossexualidade designa as relações entre homens ou mulheres, que experimentam uma atracção sexual exclusiva ou predominante para pessoas do mesmo sexo. Tem-se revestido de formas muito variadas, através dos séculos e das culturas. A sua génese psíquica continua em grande parte por explicar. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves (103) a Tradição sempre declarou que «os actos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados» (104). São contrários à lei natural, fecham o acto sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afectiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados.

2358. Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objectivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição.

2359. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.

III. O amor dos esposos

2360. A sexualidade ordena-se para o amor conjugal do homem e da mulher. No matrimónio, a intimidade corporal dos esposos torna-se sinal e penhor de comunhão espiritual. Entre os baptizados, os laços do matrimónio são santificados pelo sacramento.
2361. «A sexualidade, mediante a qual o homem e a mulher se dão um ao outro com os actos próprios e exclusivos dos esposos, não é algo de puramente biológico, mas diz respeito à pessoa humana como tal, no que ela tem de mais íntimo. Esta só se realiza de maneira verdadeiramente humana se for parte integrante do amor com o qual homem e mulher se comprometem totalmente um para com o outro até à morte» (105).
«Tobias ergueu-se do leito e disse [...] [a Sara]: "Irmã, levanta-te; vamos orar ao Senhor e pedir-lhe que nos conceda a sua misericórdia e salvação". Levantaram-se ambos e puseram-se a orar e a implorar que lhes fosse enviada a salvação, dizendo: "Bendito sejas, Deus dos nossos pais [...]. Tu criaste Adão e deste-lhe Eva, sua esposa, como amparo valioso, e de ambos procedeu o género humano. Com efeito, disseste: 'Não é bom que o homem esteja só; façamos-lhe uma auxiliar semelhante a ele'. Agora, Senhor, Tu bem sabes que não é por luxúria que agora tomo por esposa esta minha irmã, mas é com intenção pura. Permite, pois, que eu e ela encontremos misericórdia e cheguemos juntos à velhice» (Tb8, 4-9).
2362. «Os actos pelos quais os esposos se unem íntima e castamente são honestos e dignos; realizados de modo autenticamente humano, exprimem e alimentam a mútua entrega pela qual se enriquecem um ao outro com alegria e gratidão» (106). A sexualidade é fonte de alegria e de prazer:
«Foi o próprio Criador Quem [...] estabeleceu que, nesta função [da geração], os esposos experimentassem prazer e satisfação do corpo e do espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal ao procurar este prazer e gozar dele. Aceitam o que o Criador lhes destinou. No entanto, devem saber manter-se dentro dos limites duma justa moderação» (107).
 2363. Pela união dos esposos realiza-se o duplo fim do matrimónio: o bem dos próprios esposos e a transmissão da vida. Não podem separar-se estes dois significados ou valores do matrimónio sem alterar a vida espiritual do casal nem comprometer os bens do matrimónio e o futuro da família.
O amor conjugal do homem e da mulher está, assim, colocado sob a dupla exigência da fidelidade e da fecundidade.

A FIDELIDADE CONJUGAL

2364. Ambos os esposos constituem «uma íntima comunidade de vida e de amor, fundada pelo Criador e por Ele dotada de leis próprias». Esta comunidade «é instaurada pela aliança conjugal, ou seja, por um irrevogável consentimento pessoal» (108). Os dois entregam-se, definitiva e totalmente, um ao outro. Doravante, já não são dois, mas uma só carne. A aliança livremente contraída pelos esposos impõe-lhes a obrigação de a manter una e indissolúvel (109). «O que Deus uniu, não o separe o homem»(Mc 10, 9) (110).

2365. A fidelidade exprime a constância em manter a palavra dada. Deus é fiel. O sacramento do matrimónio introduz o homem e a mulher na fidelidade de Cristo à sua Igreja. Pela castidade conjugal, eles dão testemunho deste mistério perante o mundo.
São João Crisóstomo sugere aos jovens casados que façam este discurso às suas esposas: «Tomei-te nos meus braços, amo-te e prefiro-te à minha própria vida. Porque a vida presente não é nada e o meu sonho mais ardente é passá-la contigo, de tal maneira que tenhamos a certeza de não ser separados naquela que nos está reservada [...]. Eu ponho o teu amor acima de tudo, e nada me seria mais penoso do que não ter os mesmos pensamentos que tu» (111).
A FECUNDIDADE DO MATRIMÓNIO

2366. A fecundidade é um dom, uma finalidade do matrimónio, porque o amor conjugal tende naturalmente a ser fecundo. O filho não vem de fora juntar-se ao amor mútuo dos esposos; surge no próprio coração deste dom mútuo, do qual é fruto e complemento. Por isso, a Igreja, que «toma partido pela vida» (112), ensina que «todo o acto matrimonial deve, por si estar aberto à transmissão da vida» (113). «Esta doutrina, muitas vezes exposta pelo Magistério, funda-se sobre o nexo indissolúvel estabelecido por Deus e que o homem não pode quebrar por sua iniciativa, entre os dois significados inerentes ao acto conjugal: união e procriação» (114).

2367. Chamados a dar a vida, os esposos participam do poder criador e da paternidade de Deus (115). «No dever de transmitir e educar a vida humana – dever que deve ser considerado como a sua missão própria – saibam os esposos que são cooperadores do amor de Deus e como que os seus intérpretes. Cumprirão, pois, esta missão, com responsabilidade humana e cristã» (116).

2368. Um aspecto particular desta responsabilidade diz respeito à regulação da procriação.Os esposos podem querer espaçar o nascimento dos seus filhos por razões justificadas (117). Devem, porém, verificar se tal desejo não procede do egoísmo, e se está de acordo com a justa generosidade duma paternidade responsável. Além disso, regularão o seu comportamento segundo os critérios objectivos da moralidade:
«Quando se trata de conciliar o amor conjugal com a transmissão responsável da vida, a moralidade do comportamento não depende apenas da sinceridade da intenção e da apreciação dos motivos; deve também determinar-se por critérios objectivos, tomados da natureza da pessoa e dos seus actos; critérios que respeitem, num contexto de autêntico amor, o sentido da mútua doação e da procriação humana. Tudo isto só é possível, se se cultivar sinceramente a virtude da castidade conjugal» (118).
2369. «É salvaguardando estes dois aspectos essenciais, união e procriação, que o acto conjugal conserva integralmente o sentido de mútuo e verdadeiro amor e a sua ordenação para a altíssima vocação do homem para a paternidade» (119).

2370. A continência periódica, os métodos de regulação dos nascimentos baseados na auto-observação e no recurso aos períodos infecundos (120), são conformes aos critérios objectivos da moralidade. Estes métodos respeitam o corpo dos esposos, estimulam a ternura entre eles e favorecem a educação duma liberdade autêntica. Em contrapartida, é intrinsecamente má «qualquer acção que, quer em previsão do acto conjugal, quer durante a sua realização, quer no desenrolar das suas consequências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação» (121).
«À linguagem que exprime naturalmente a doação recíproca e total dos esposos, a contracepção opõe uma linguagem objectivamente contraditória, segundo a qual já não se trata de se darem totalmente um ao outro. Daí deriva, não somente a recusa positiva da abertura à vida, mas também uma falsificação da verdade interna do amor conjugal, chamado a ser um dom da pessoa toda. [...] Esta diferença antropológica e moral, entre a contracepção e o recurso aos ritmos periódicos, implica dois conceitos de pessoa e de sexualidade humana irredutíveis um ao outro» (122).
2371. «Aliás, todos devem ter bem presente que a vida humana e a missão de a transmitir não se limitam aos horizontes deste mundo, nem podem ser medidas ou compreendidas unicamente em função dele, mas estão sempre relacionadas com o destino eterno do homem» (123).

2372. O Estado é responsável pelo bem-estar dos cidadãos. A tal título, é legítimo que intervenha para orientar o crescimento da população. Pode fazê-lo mediante uma informação objectiva e respeitosa, não porém com imposições autoritárias e obrigatórias. O Estado não pode legitimamente substituir-se à iniciativa dos esposos, primeiros responsáveis pela procriação e educação dos seus filhos (124). Neste domínio, não tem autoridade para intervir com medidas contrárias à lei moral.

O DOM DO FILHO

2373. A Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja vêem nas famílias numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais (125).

2374. É grande o sofrimento dos casais que descobrem que são estéreis. «Que me dareis, Senhor Deus?» – pergunta Abraão a Deus. «Vou-me sem filhos...» (Gn 15, 2). – «Dá-me filhos ou então morro!» – grita Raquel ao seu marido Jacob (Gn 30, 1).

2375. As pesquisas que se destinam a reduzir a esterilidade humana devem ser encorajadas, com a condição de serem colocadas «ao serviço da pessoa humana, dos seus direitos inalienáveis e do seu bem verdadeiro e integral, em conformidade com o projecto e a vontade de Deus» (126).

2376. As técnicas que provocam a dissociação dos progenitores pela intervenção duma pessoa estranha ao casal (dádiva de esperma ou ovócito, empréstimo de útero) são gravemente desonestas. Estas técnicas (inseminação e fecundação artificial heteróloga) lesam o direito do filho a nascer dum pai e duma mãe seus conhecidos e unidos entre si pelo casamento. E atraiçoam «o direito exclusivo a não serem nem pai nem mãe senão um pelo outro» (127).

2377. Praticadas no seio do casal, estas técnicas (inseminação e fecundação artificial homóloga) são talvez menos prejudiciais, mas continuam moralmente inaceitáveis. Dissociam o acto sexual do acto procriador. O acto fundador da existência do filho deixa de ser um acto pelo qual duas pessoas se dão uma à outra, e «remete a vida e a identidade do embrião para o poder dos médicos e biólogos. Instaurando o domínio da técnica sobre a origem e destino da pessoa humana. Tal relação de domínio é, de si, contrária à dignidade e à igualdade que devem ser comuns aos pais e aos filhos» (128). «A procriação é moralmente privada da sua perfeição própria, quando não é querida como fruto do acto conjugal, isto é, do gesto específico da união dos esposos. [...] Só o respeito pelo laço que existe entre os significados do acto conjugal e o respeito pela unidade do ser humano permite uma procriação conforme à dignidade da pessoa» (129).

2378O filho não é uma dívida, é uma dádiva. O «dom mais excelente do matrimónio» é uma pessoa humana. O filho não pode ser considerado como objecto de propriedade, conclusão a que levaria o reconhecimento dum pretenso «direito ao filho». Neste domínio, só o filho é que possui verdadeiros direitos: o de «ser fruto do acto específico do amor conjugal dos seus pais, e também o de ser respeitado como pessoa desde o momento da sua concepção» (130).

2379. O Evangelho mostra que a esterilidade física não é um mal absoluto. Os esposos que, depois de esgotados os recursos médicos legítimos, sofrem de infertilidade, associar-se-ão à cruz do Senhor, fonte de toda a fecundidade espiritual. Podem mostrar a sua generosidade adoptando crianças abandonadas ou realizando serviços significativos em favor do próximo.

IV. As ofensas à dignidade do matrimónio

2380. O adultério. É o termo que designa a infidelidade conjugal. Quando dois parceiros, dos quais pelo menos um é casado, estabelecem entre si uma relação sexual, mesmo efémera, cometem adultério. Cristo condena o adultério, mesmo de simples desejo (131). O sexto mandamento e o Novo Testamento proíbem absolutamente o adultério (132). Os profetas denunciam-lhe a gravidade. E vêem no adultério a figura do pecado da idolatria (133).

2381. O adultério é uma injustiça. Aquele que o comete, falta aos seus compromissos. Viola o sinal da Aliança, que é o vínculo matrimonial, lesa o direito do outro cônjuge e atenta contra a instituição do matrimónio, violando o contrato em que assenta. Compromete o bem da geração humana e dos filhos que têm necessidade da união estável dos pais.

O DIVÓRCIO

2382. O Senhor Jesus insistiu na intenção original do Criador, que queria um matrimónio indissolúvel (134). E abrogou as tolerâncias que se tinham infiltrado na antiga Lei (135).
Entre baptizados, «o matrimónio rato e consumado não pode ser dissolvido por nenhum poder humano, nem por nenhuma causa, além da morte» (136).

2383. A separação dos esposos, permanecendo o vínculo matrimonial, pode ser legítima em certos casos previstos pelo direito canónico (137).
Se o divórcio civil for a única maneira possível de garantir certos direitos legítimos, tais como o cuidado dos filhos ou a defesa do património, pode ser tolerado sem constituir falta moral.

2384. O divórcio é uma ofensa grave à lei natural. Pretende romper o contrato livremente aceite pelos esposos de viverem um com o outro até à morte. O divórcio é uma injúria contra a aliança da salvação, de que o matrimónio sacramental é sinal. O facto de se contrair nova união, embora reconhecida pela lei civil, aumenta a gravidade da ruptura: o cônjuge casado outra vez encontra-se numa situação de adultério público e permanente:
«Não é lícito ao homem, despedida a esposa, casar com outra; nem é legítimo que outro tome como esposa a que foi repudiada pelo marido»(138).
2385. O carácter imoral do divórcio advém-lhe também da desordem que introduz na célula familiar e na sociedade. Esta desordem traz consigo prejuízos graves: para o cônjuge que fica abandonado; para os filhos, traumatizados pela separação dos pais e, muitas vezes, objecto de contenda entre eles; e pelo seu efeito de contágio, que faz dele uma verdadeira praga social.

2386. Pode acontecer que um dos cônjuges seja a vítima inocente do divórcio declarado pela lei civil; esse, então, não viola o preceito moral. Há uma grande diferença entre o cônjuge que sinceramente se esforçou por ser fiel ao sacramento do matrimónio e se vê injustamente abandonado, e aquele que, por uma falta grave da sua parte, destrói um matrimónio canonicamente válido (139).

OUTRAS OFENSAS À DIGNIDADE DO MATRIMÓNIO

2387. É compreensível o drama daquele que, desejoso de se converter ao Evangelho, se vê obrigado a repudiar uma ou mais mulheres com quem partilhou anos de vida conjugal. Contudo, a poligamia não está de acordo com a lei moral. «Opõe-se radicalmente à comunhão conjugal: porque nega, de modo directo, o desígnio de Deus, tal como nos foi revelado no princípio e é contrária à igual dignidade pessoal da mulher e do homem, os quais, no matrimónio, se dão um ao outro num amor total que, por isso mesmo, é único e exclusivo»(140). O cristão que anteriormente foi polígamo é gravemente obrigado, por justiça, a honrar as obrigações contraídas para com as suas antigas mulheres e respectivos filhos.

2388. O incesto designa relações íntimas entre parentes ou afins, num grau que proíbe o matrimónio entre eles (141). São Paulo estigmatiza esta falta particularmente grave: «É voz corrente que existe entre vós um caso de imoralidade [...] ao ponto de certo homem viver com a mulher de seu pai! [...] Em nome do Senhor Jesus [...], que esse homem seja entregue a Satanás [...] para ruína do seu corpo» (1 Cor 5, 1. 4-5). O incesto corrompe as relações familiares e representa uma regressão à animalidade.

2389. Podem relacionar-se com o incesto os abusos sexuais cometidos por adultos em relação a crianças ou adolescentes confiados à sua guarda. Nesse caso a culpa é dupla por se tratar dum escandaloso atentado contra a integridade física e moral dos jovens, que assim ficarão marcados para toda a sua vida e duma violação da responsabilidade educativa.

2390.  união livre quando homem e mulher recusam dar forma jurídica e pública a uma ligação que implica intimidade sexual.
A expressão é falaciosa: que pode significar uma união em que as pessoas não se comprometem uma para com a outra, testemunhando assim uma falta de confiança na outra, em si mesmas, ou no futuro?
A expressão tenta camuflar situações diferentes: concubinato, recusado matrimónio como tal, incapacidade de se ligar por compromissos a longo prazo (142). Todas estas situações ofendem a dignidade do matrimónio; destroem a própria ideia de família; enfraquecem o sentido da fidelidade. São contrárias à lei moral: o acto sexual deve ter lugar exclusivamente no matrimónio; fora dele constitui sempre um pecado grave e exclui da comunhão sacramental.

2391. Hoje em dia, há muitos que reclamam uma espécie de «direito à experiência», quando há intenção de contrair matrimónio. Seja qual for a firmeza do propósito daqueles que enveredam por relações sexuais prematuras, «estas não permitem assegurar que a sinceridade e a fidelidade da relação interpessoal dum homem e duma mulher fiquem a salvo nem, sobretudo, que esta relação fique protegida de volubilidade dos desejos e dos caprichos»(143). A união carnal só é legítima quando se tiver instaurado uma definitiva comunidade de vida entre o homem e a mulher. O amor humano não tolera o «ensaio». Exige o dom total e definitivo das pessoas entre si (144).

Resumindo:

2392. «O amor é a vocação fundamental e inata de todo o ser humano» (145).
2393. Ao criar o ser humano homem e mulher, Deus conferiu a dignidade pessoal, de igual modo, a um e a outra. Compete a cada um, homem e mulher, reconhecer e aceitar a sua identidade sexual.
2394. Cristo é o modelo da castidade. Todo o baptizado é chamado a levar uma vida casta, cada um segundo o seu próprio estado de vida.
2395. A castidade significa a integração da sexualidade na pessoa. Implica a aprendizagem do autodomínio.
2396. Entre os pecados gravemente contrários à castidade, devem citar-se: a masturbação, a fornicação, a pornografia e as práticas homossexuais.
2397. A aliança livremente contraída pelos esposos implica um amor fiel. Ele impõe-lhes a obrigação de guardar indissolúvel o seu matrimónio.
2398. A fecundidade é um bem, um dom, uma finalidade do matrimónio. Dando a vida, os esposos participam da paternidade de Deus.
2399. A regulação dos nascimentos representa um dos aspectos da paternidade e da maternidade responsáveis. A legitimidade das intenções dos esposos não justifica o recurso a meios moralmente inadmissíveis (por exemplo, a esterilização directa ou a contracepção).
2400. O adultério e o divórcio, a poligamia e a união livre são ofensas graves à dignidade do matrimónio.

Fonte:Vatican,va

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Em que Consiste a perfeição - Pe Faber.


"Em que consiste a perfeição? Numa caridade infantil, de vistas curtas, caridade que acredita em todas as coisas; numa grande convicção sobrenatural de que todo o mundo é melhor do que nós; em estimar muito reduzida a quantidade de mal no mundo; em olhar demasiado exclusivamente para o que é bom; na engenhosidade de interpretações benévolas; numa desatenção, quase ininteligível, para as faltas dos outros; numa graciosa perversidade de incredulidade sobre escândalos, que por vezes, nos Santos, chega perto de constituir um escândalo por si só. Essa é a perfeição; esse é o temperamento e o gênio dos Santos e dos homens que os imitam. É uma vida de desejo, esquecida das coisas terrenas. É uma fé radiante e enérgica de que a lentidão e frieza do homem não interferirão no sucesso da glória de Deus. Ao mesmo tempo, porém, lutando instintivamente, pela prece e reparação, contra os males nos quais não se permite a si próprio crer conscientemente. Nenhuma sombra de morosidade cai jamais sobre a mente brilhante de um Santo. Não é possível que venha a fazê-lo. Finalmente, a perfeição tem o dom de penetrar no universal Espírito de Deus, adorado de tantos jeitos diferentes, e está contente. Ora, tudo isso não é, simplesmente, o exato oposto do temperamento e do espírito de um homem que está sujeito a escandalizar-se? A diferença é tão manifesta, que é desnecessário comentá-la. Feliz de quem, em seu leito de morte, pode dizer: “Ninguém jamais me escandalizou na minha vida!” Ele ou não viu as faltas do próximo ou, quando as viu, a visão delas para alcançá-lo tinha de atravessar tanta luz solar dele próprio, que as faltas alheias não o atingiram tanto como faltas a culpar, mas antes como razões para um mais profundo e terno amor."

(Cap. VIII das

Conferências Espirituais

(Londres, 1859)

domingo, 15 de novembro de 2015

As Falsas Virtudes




Aparências de virtude
Antes de falarmos do que é a virtude, vamos falar um pouco do que “não é”.
A definição mais simples – embora perigosa – de virtude é “hábito bom”, ou seja, uma qualidade que a pessoa tem e que se manifesta em certas atitudes e reações habituais, em determinadas condutas contínuas. Há, por exemplo, pessoas que tem uma amabilidade habitual, outras que geralmente estão de bom humor, outras que sempre cumprem os horários, outras que não descuidam da ordem material, outras que nunca irritam os demais...
Todas essas coisas, você acha que são virtudes? Podem ser, todas elas, mas nem sempre. Mas ainda, como veremos a seguir, podem ser pseudovirtudes que enganam, como as miragens no deserto, que aparecem à imaginação dos que morrem de sede como se fossem lagos azuis.
Há vários critérios, muitos deles dados por Cristo, para desmascarar as falsas virtudes. Veremos a seguir alguns deles. Mas acho bom preveni-lo: com isso, não queremos convidar ninguém a pensar nos defeitos dos outros! Basta que identifiquemos os nossos.
Para melhor desmascarar as miragens, façamos uma classificação.
Tipos de miragens
1) As “virtudes” vaidosas
Nosso senhor fala explicitamente delas. Já no início de sua pregação, no Sermão da Montanha, nos alerta: Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu (cf. Mt 6,1). Quer dizer que, aos olhos de Deus, não tem valor as virtudes contaminadas pela vaidade.
Para serdes vistos! Esse para diz tudo: fala das virtudes praticadas com uma finalidade vaidosa, que pode ser dupla.
a)  Virtudes-vitrine
Vividas com fins de exibição, procurando glorificar a nossa imagem diante dos outros, indo atrás do aplauso, da publicidade, do louvor, ou da badalação para obter vantagens. Jesus corta pela raiz essa hipocrisia.
Lembre que, no Sermão da Montanha, Ele nos manda praticar a esmola sem tocar a trombeta, sem que a mão esquerda saiba o que faz a direita, e assim teu Pai que vê o escondido, te recompensará.
Igualmente, não quer que oremos – que façamos as nossas práticas religiosas – para sermos vistos pelos homens, visando criar uma boa imagem espiritual, que os outros admirem, e talvez aproveitar-nos dela. Quantos rapazes e moças não fizeram isso para arranjar na igreja namoradas(os) bonzinhos.
Por fim, recomenda fazer sacrifícios sem “ar de vítima”, sem dar-nos importância nem cobrar o agradecimento dos demais: “Quando jejuardes, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto; assim, não parecerá aos homens que jejuas (cf. Mt 6,2 ss). Virtude vaidosa não é virtude.
b) Virtudes-espelho
A vaidade funciona também como um espelho onde nos contemplamos, no íntimo de nós, com admiração e orgulho. Como fazia aquele de quem falava São Josemaria, que dedicou um livro a si mesmo, escrevendo: «A mim mesmo, com a admiração que me devo» (Sulco, n. 719). Ao envaidecer-nos com as nossas qualidades, estragamos o bem que possa haver nelas.
Por causa disso, Jesus reprovou o fariseu que subiu ao Templo intimamente ufano com as suas “virtudes”: Graças te dou, ó Deus, porque não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como este publicano que está ali. Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus lucros (cf. Lc 18, 9-14). O publicano, tão desprezado, só agradecia a bondade de Deus e pedia perdão. Este voltou para casa justificado, e não o outro (Lc 18, 9-14).
E nós? Que me diz de nós quando repetimos “eu não tenho pecado”, “não faço mal a ninguém”, “não preciso me confessar”? Não há uma certa semelhança com o fariseu?
2) Os hábitos rotineiros
Existem pessoas muito cumpridoras, tanto do dever profissional, como do atendimento das necessidades familiares e dos deveres religiosos. Não são irresponsáveis, não tem falhas graves. Mas fazem as coisas com uma rotina morna, como que forçados, sem alma. Nunca se renovam! Não se nota que estejam lutando por melhorar; estão sempre na mesma, ou melhor, estão “mofando” na mesma. Seu “cumprir” é um “cumpri-mentir”, para dizê-lo remendando um pensamento de Álvaro del Portillo.
Jesus se refere a eles quando cita estas palavras do profeta Isaías: Este povo somente me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim (Mt 15,7; Is 29,13). E também quando censura os mornos: Não és nem frio nem quente... Tenho contra ti que arrefeceste o teu primeiro amor(Ap 3,15; 2,4).
Não há virtude “viva” na pessoa rotineira, que não tem amor criativo nem renovação de atitudes.
3) As inclinações temperamentais
Há outros que parecem ter virtudes excelentes, mas que não são virtudes, são apenas bons sentimentos ou inclinações temperamentais. Fazem coisas boas porque lhes “saem” sem esforço, porque correspondem ao seu “natural”, porque lhes são agradáveis e até os divertem. Quantas fachadas simpáticas tem essas características!
Mas, nestes casos, por trás da fachada veem-se dois sinais típicos da falsa virtude:
- O primeiro sinal e que não fazem nada por adquirir “outras” virtudes não sentimentais nem fáceis, e que são muito mais importantes. Pense no homem amável e sociável, pronto para ir visitar um amigo e ajuda-lo a passar um bom momento, mas é preguiçoso, que trabalha mal e não cumpre os compromissos incômodos ou exigentes nem sequer com os amigos.
- O segundo sinal consiste em que eles tem dupla face. Fora de casa, são vazão, por exemplo, à simpatia e a camaradagem temperamentais (por vaidade, ou simplesmente por prazer), mas em casa – onde mais do que o temperamento, é preciso a abnegação – são insuportáveis. Fazem lembrar aquela história do velório de um marido beberrão e violento, que fazia a esposa um saco de pancadas. Os amigos de boteco rodeavam o caixão, compungidos, e comentavam de longe: “Que homem! Grande amigo! Era a amabilidade em pessoa! Sempre pronto para ajudar, bom coração...”. A esposa, ao ouvir isso, arregalou os olhos e pediu ao filho mais novo: - Joãozinho, vá até o caixão e veja se o defunto é mesmo seu pai...”.
Talvez a esses Jesus diria: Sepulcros caiados, que por fora parecem formosos, mas por dentro estão cheios [...] de hipocrisia e de iniquidade (cf.Mt 23, 27-28).
4) As virtudes-fogueira
Finalmente, neste quadro de miragens poderíamos colocar aquelas virtudes que são como uma fogueira de São João. Arde e ilumina durante uma noite. No dia seguinte, só restam cinzas. São febres efêmeras.
Lembro-me do que contavam há bastantes anos algumas pessoas que, infelizmente, foram mobilizadas para participar de uma guerra. Durante os combates, havia jovens soldados que mostravam exemplos espetaculares de bravura, de renúncia, de coragem. Mas, ao chega o tempo de paz, eram incapazes de vencer a pequena batalha de acordar na hora certa para chegar pontualmente às aulas na faculdade.
Também no Evangelho temos exemplos claros disso. São Pedro, na Última Ceia, diz a Jesus, com veemência, de coração: Darei a minha vida por ti! (Jo 13,37), Ainda que seja preciso morrer contigo, não te renegarei! (Mc 14,31). Horas depois, não consegue nem acompanhar Jesus na oração no Horto, e o Senhor tem que lhe dizer: Simão, dormes? Não pudeste vigiar comigo uma hora? (Mc 14,37). E, após a prisão de Cristo, foge e nega-O três vezes. Tinha virtude emocional, ardor de bons sentimentos, mas faltava-lhe a firmeza da verdadeira virtude.
São muito apreciáveis essas virtudes emotivas, mas só elas – por mais sentidas que sejam – não fazem santos nem bons cristãos. O bom perfume das virtudes cristãos, como lembra São Josemaria, «faz-se sentir entre os homens, não pelas labaredas de um fogo de palha, mas pela eficácia de um rescaldo de virtudes: a justiça, a lealdade, a fidelidade, a compreensão, a generosidade, a alegria» (É Cristo que passa, n. 36).
Fonte: Faus, Francisco. A Conquista das Virtudes / Francisco Faus – São Paulo : Cultor de Livros, 2014. p.13-17.


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