Sem citar a palavra homossexual e sem fazer julgamento sobre a
homossexualidade, ele atacou claramente a legalização do casamento gay
O papa Bento XVI se mostrou combativo nesta sexta-feira ao convocar os
católicos para "lutar" contra o casamento gay, em um contexto de
mobilização da Igreja em todos os grandes debates da sociedade. Em seu
discurso de fim de ano à Cúria Romana, o Papa criticou duramente as
novas concepções da família que não se baseiam na união entre um homem e
uma mulher e afirmou que "na luta pela família está em jogo a essência
do ser humano".
Sem citar a palavra homossexual e sem fazer julgamento sobre a
homossexualidade, ele atacou claramente a legalização do casamento gay e
a adoção por esses casais na França, Estados Unidos e em outros países.
A posição do Vaticano sobre o casamento homossexual não mudou, mas o
tom endureceu.
No momento em que os países ocidentais adotam reformas sobre o casamento
homossexual, o "Ano da Fé", lançado em outubro pelo Papa, parece ser a
ocasião de combate sobre essas questões morais. Alguns movimentos
católicos organizaram uma grande manifestação contra o casamento gay na
França em 18 de novembro. Uma outra manifestação nacional está prevista
para 13 de janeiro.
Os representantes das grandes religiões da França (católica, islâmica,
protestante, judaica), criticaram o projeto do governo socialista, mas
insistiram na natureza específica de seus argumentos.
Bento XVI, em uma rara mensagem publicada quinta-feira no Financial
Times, convidou os cristãos a se engajarem nas áreas da justiça, da paz,
da vida e da família. Segundo o Papa, os cristãos devem ser coerentes
com a fé católica, disse, citando os políticos que são encarregados de
votar a favor ou contra os projetos de lei de um governo.
Ele propôs uma "aliança" entre fiéis de diversas religiões e ateus sobre
os temas essenciais de defesa da justiça, da paz, da família e da vida,
que seria possível em razão de serem "leis naturais" as quais todos
podem aderir. Em virtude desta lógica, ele citou longamente, e de
maneira inédita, o grande rabino da França, Gilles Bernheim, muito
crítico ao projeto de legalizar o casamento e a adoção para os
homossexuais.
O Papa elogiou o trabalho do rabino Bernheim, que demonstra que "atentar
contra a autêntica forma da família, constituída por um pai, uma mãe e
uma criança (...) coloca em jogo a própria visão do ser humano". "Se até
o momento percebíamos como a causa da crise da família a incompreensão
sobre a essência da liberdade humana, agora está claro que o que está em
jogo é a própria visão do ser humano, o que significa em realidade o
fato de ser uma pessoa humana", observou Bento XVI.
"A criança perdeu a posição a que pertencia até o momento e a dignidade
particular que lhe é própria", prosseguiu o Papa. "Bernheim mostra como,
de sujeito jurídico independente em si mesmo, ele se transforma
necessariamente em um objeto, que é e tem o direito, e como um objeto de
direito, pode ser obtido".
Com a rejeição do casamento tradicional, acrescentou, "desaparecem as
figuras fundamentais da existência humana: o pai, a mãe, o filho: as
dimensões essenciais da experiência de ser uma pessoa humana estão
desabando". Neste discurso, no qual costuma explicar as principais
preocupações da Igreja, o Papa lamentou a "profunda falsidade" dos
estudos de gênero, que consideram que o sexo de uma pessoa é
determinado, na realidade, pela sociedade e educação.
O Papa insistiu ao Financial Times que a "luta" pacífica que ele
convocou ultrapassa as fronteiras da Igreja: os princípios que ela
defende "não são verdades de fé, estão inscritas na própria natureza
humana, identificável pela razão, e, portanto, comum a toda a
humanidade", seja no casamento, no começo e fim da vida, e na bioética,
afirmou o Papa. Sua transformação causará "prejuízo grave para a justiça
e a paz", acrescentou.
Fonte: Notícias Terra
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