sexta-feira, 19 de abril de 2013

Psicologia comparada do homem e da mulher




Por Pe. Jean Viollet*

Se quisermos ajudar a juventude a evitar as surpresas oriundas da ignorância, é preciso fazer-lhe conhecer a psicologia própria do homem e da mulher.

Não pretendemos afirmar que os sexos sejam essencialmente diferentes um do outro. O homem e a mulher assemelham-se estranhamente, nesse sentido que ambos são dotados de inteligência, vontade e liberdade, possuem um e outro uma consciência moral, e seria falsear sua natureza atribuir, por exemplo, a sensibilidade e a inteligência intuitiva unicamente ao sexo feminino e a força física e inteligência discursiva unicamente ao masculino. Existem mulheres fisicamente mais fortes que o homem e, por outro lado, há elementos masculinos cuja sensibilidade é mais aguçada que da mulher. Todavia, no conjunto, cada um dos sexos define-se por qualidades específicas e os dotes de um são complementares aos do outro.

O homem demonstra ordinariamente maior força muscular do que a mulher. Eis porque é mais facilmente empreendedor e audacioso: é por natureza combativo, estimulado pelos obstáculos. Assim sendo, é constituído para comandar, com risco de abusar do poder para dominar e impor sua vontade. Ressaltam-se, de pronto, os excessos decorrentes dessas disposições naturais. É o egoísmo brutal, o orgulho, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do próximo, principalmente dos da mulher.

O abuso é tanto mais fácil que a mulher amorosa curva-se docilmente às exigências daquele que ama. Isto não significa que a mulher seja o ser fraco, incapaz de se dirigir e defender, como comprazeram-se a pintá-la os antifeministas**. Diariamente dá provas de força de caráter, e se é muscularmente mais fraca do que o homem, mostra-se muitas vezes mais resistente e capaz de suportar a fadiga e o sofrimento da existência. Porem, porque vive mais pelo coração, recebe mais facilmente as influências e considera os acontecimentos através de sua repercussão sobre os sentimentos.

Quando um homem não tem a animá-lo um verdadeiro ideal e elevada generosidade, a mulher torna-se uma presa fácil para seu egoísmo. Sabemos como são freqüentes os abusos da autoridade masculina em certos meios. Sob pretexto de que é o mestre, impõe suas vontades sem preocupação das regras morais. O número de mulheres literalmente exploradas pelo egoísmo do marido é muito maior do que se pensa. À mulher cabem todos os trabalhos, as responsabilidades, e de um modo geral os piores encargos pesam sobre ela. Que não possa dispor durante todo o dia de um só momento para si não é pensamento que preocupe o marido, e quando a vê doente, esgotada, mostra-se surpreendido, sem contudo considerar-se responsável.

E todavia a força só foi dada ao homem para que seja protetor da mulher, para manter o moral da família e ajudar a cada um dos membros na prática do bem. Longe de alardear seu poder, o homem deve aprender a refrear as exigências de seu egoísmo a partilhar com a mulher das preocupações da vida familiar e, até mesmo, de certos serviços domésticos, quando necessário.

A mulher, sendo a guarda do lar, orienta, naturalmente, sua inteligência para as questões que interessam a vida familiar. Mas daí pode resultar uma tentação, a de se enclausurar no circulo dos serviços rotineiros, que a levariam a abandonar certos deveres inerentes à vida social da família e a de se deixar absorver pelas preocupações de cada dia ao ponto de descuidar dos interesses gerais. Por amor dos seus, ela se arrisca ou a mimar demais os filhos ou a aceitar passivamente as idéias do marido, quiçá contrárias à moral. Talvez porque sua inteligência seja mais intuitiva do que dedutiva, a mulher rege pelo silêncio aos argumentos do marido que ama. Muitas jovens, ansiosas por se formarem uma personalidade antes do casamento, uma vez casadas, ficam como que inibidas e, por assim dizer, fundidas na personalidade mesmo insignificante do marido.

Daí resulta, para o homem, uma tentação de abuso à qual sucumbirá frequentemente. Se estiver cônscio de suas responsabilidades, longe de se aproveitar dessa disposição de espírito, protegerá a mulher, em vez de explorar em benefício próprio a fraqueza feminina, ajudará sua companheira e, sendo preciso, conduzi-la-á a manter e desenvolver uma personalidade moral.

No decorrer da vida cotidiana, a mulher geralmente demonstra menos atividade e iniciativa do que o homem, mas possui maior resistência e energia; é mais perseverante, fiel e paciente naquilo que empreende. Eis porque, quando esclarecida e dotada de vontade, triunfa mais do que o homem na educação dos filhos, auxiliado, como é, pela sua intuição das tendências e dos caracteres, pela paciência e tenacidade. Assim sendo, sua influência torna-se mais penetrante e, muitas vezes, mais duradoura que a do pai. O homem contenta-se frequentemente em governar o filho; a mãe conquista-lhe a confiança, influenciando mais profundamente sua alma. Portanto o homem deve vigiar e nunca diminuir a autoridade da mãe, como tantas vezes o faz por ciúme. Seu dever é apoiá-la na sua obra de educadora.

Se existe um fato surpreendente, é o homem não ter ainda compreendido que sua natureza, menos sensível do que a da mulher, obriga-o a um domínio especial sobre as tentações sexuais, cujo resultado seria conferir-lhe uma responsabilidade particular diante das regras da moral e da castidade conjugal. O homem deveria estar sempre apto a vencer, para nunca exigir uma união que só poderia ser satisfeita ao preço de uma falta ou desonestidade. Mais senhor de sua sensibilidade, compete-lhe ser bastante forte para resistir, ao mesmo tempo, às suas próprias tentações e às da mulher, mais confusas, porém talvez, por isto mesmo, mais perigosas. Se o homem se considera mais tentado do que a mulher, não é tanto por questão de natureza, como pela consagração de um abuso. Persuadiu-se de que sua força física explica e justifica todas as exigências sexuais, ao passo que esta lhe impõe um dever especial de domínio próprio e proteção à natureza feminina, mais propensa à confiança e ao abandono.

É fácil tirar conclusões dessas observações. A primeira revela-nos que o homem só compreenderá a natureza feminina na medida em que, sendo o senhor de seus instintos, tiver influência sobre o coração da esposa, lhe der prova de que é capaz de dominar seus sentidos e, finalmente, amá-la pelas suas qualidades e não unicamente pelos prazeres que ela lhe proporciona. A segunda, é que comete um abuso de autoridade toda vez que se serve de sua força para exigir da mulher a satisfação de desejos contrários à moral. Infelizmente, são freqüentes os casos em que o homem exerce sobre a companheira uma verdadeira tirania sexual. Muitos lares conheceriam menos desacordos íntimos, se a força masculina fosse colocada ao serviço de um maior domínio próprio.

A educação dos filhos só é possível pelo acordo dos pais. Eles têm igual autoridade, embora esta se exerça por meios diferentes. O homem, mais senhor de sua sensibilidade, talvez consiga, melhor do que a mulher, despertar no filho o sentimento de justiça. Porém o carinho feminino saberá suscitar mais profundamente os sentimentos do coração. Para essa obra difícil, que deve ser complementar e não contraditória, Deus dá a cada um qualidades específicas que se combinam, graças ao amor comum que ambos dedicam ao filho. A aplicação das sanções, mais particularmente da alçada do pai, exige um grande controle; a educação do coração supõe o exercício habitual do carinho materno.

Mais amorosa que o homem e naturalmente mais fiel, a mulher dispõe de graça e encanto destinados a salvaguardar o marido das tentações externas. Faltando-lhe estes atrativos, multiplicam-se as tentações para o homem, e muitas vezes, porque sua esposa não mais procura agradá-lo, o marido vem a desertar o lar conjugal.

A graça feminina pode, por outro lado, aliás, tornar-se um perigo. Se a mulher pretende tirar daí motivo de vaidade, despertará olhares indiscretos e cairá facilmente na futilidade. Ainda que um marido mal orientado encontrasse nos sucessos da esposa motivo de amor-próprio, seria em detrimento da intimidade e união dos corações.

Embora a natureza do homem seja mais fria que a da mulher, é preciso não se concluir logo que ele seja necessariamente egoísta. Há manifestações femininas de carinho que nascem de um violento desejo de satisfação pessoal. Se o homem deve ser bastante psicólogo para dar à esposa as provas de carinho de que ela necessita, a mulher deve esforçar-se por penetrar no pensamento do marido a fim de compreendê-lo.

A inteligência do homem é mais positiva, calculadora, objetiva. A da mulher mais espontânea e intuitiva. Cabe a esses dois valores entenderem-se mutuamente para melhor se ajudarem. Se a inteligência feminina é mais intuitiva é porque inclina-se espontaneamente para o amor do qual é, por natureza, a guardiã. A mulher descobre, quase sem raciocínio, os sentimentos que podem favorecer o amor ou prejudicá-lo. Seu modo de compreender não é inferior ao do homem, é diferente. As funções e responsabilidades são outras. Alguns filósofos julgam que a inteligência intuitiva é superior à discursiva.

Dessas diferenças intelectuais podem, facilmente, surgir incompreensões. O homem é tentado a julgar-se superior à mulher, e esta inclinada a crer que o homem não sabe amar. Um pouco de boa vontade e esforços mútuos para se compreenderem fariam facilmente desaparecer essas pretensas oposições. Seria preciso, ainda, que a mulher se deixasse penetrar pela razão positiva do homem, e que este procurasse entender as intuições da natureza feminina. Estas, de ordem sentimental, impedirão, muitas vezes, o homem de cometer atos que muitas vezes fechariam seu coração às exigências da piedade e da bondade; a ponderada razão masculina ajudará a mulher a verificar a objetividade de seus sentimentos.

O espírito feminino é tentado a confundir o amor com as emoções da sensibilidade. A mulher julga que deixou de amar, quando não mais as sentir. É uma tentação perigosa contra a qual deverá precaver-se.

O homem, menos sensível, acredita, facilmente, que lhe basta cumprir seu dever de proteção e ser fiel à mulher para lhe testemunhar seu amor. Esquece muito depressa que a sensibilidade feminina é uma flor delicada que é preciso cultivar sempre.

A boa compreensão entre o homem e a mulher é um compromisso perpétuo. Se a esposa pretende acompanhar o marido sob pretexto de que tem necessidade de sua presença constante, logo o cansará. Por pouco que exerça sobre ele seu domínio, sua tirânica afeição privará o marido de toda iniciativa e atividade pessoal. Se o marido for dotado de uma personalidade vigorosa, abandonará facilmente a mulher e dela se desapegará. Se, por outro lado, se mostrar indiferente e distraído, não se dando ao trabalho de dedicar-lhe uma parte de seu tempo, se não souber entendê-la para compreendê-la, provocará insensivelmente na esposa um sentimento de solidão que pode, então, em tristeza e em tristes separações. Assim a diversidade das naturezas explica-se pela diversidade dos encargos. Seria vão e odioso procurar definir a superioridade do homem e da mulher. Com efeito, não é possível decidir qual das duas funções, a de proteger ou a de manter a união dos corações, é a mais sublime.


*em “A educação do pudor e do sentimento, Jean Viollet, pp.150-3”

** Como livro foi escrito em 1925 o termo "antifeminista" provavelmente não teria o mesmo emprego que usamos hoje, que é o da sadia luta contra o feminismo, movimento este que deturpa a verdadeira essência feminina, creio que o sentido do termo usado pelo autor nesta época se referia a ações que depreciavam as mulheres. Nota do administrador deste blog.

Fonte: Blog Mater Dei

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