domingo, 28 de outubro de 2012

A necessidade de ser viril - León Bloy


 


“É muito fácil castrar as almas só lhes ensinando o preceito de amarmos os nossos irmãos, com prejuízo de todos os demais preceitos que assim lhe seriam ocultados. Obtém-se por essa via uma religião ociosa e visguenta, mais temível nos seus efeitos que o próprio niilismo. Ora, o Evangelho contém ameaças e conclusões terríveis. Jesus, em vinte lugares, lança o anátema não sobre coisas, mas sim sobre homens que designa com terrível precisão. Nem por isso deixa de sacrificar sua vida por todos, mas depois de nos ter deixado a prática de falar ‘em cima dos telhados’, como ele próprio falou. Ele é o modelo único e aos cristãos outra coisa não compete fazer que imitar seus exemplos.”
“Que pensariam vocês da caridade de um homem que deixasse envenenar os seus irmãos com receito de, advertindo-os, arruinar o prestígio do envenenador? Eu sustento que em semelhante hipótese a caridade consiste em protestar e que o amor autêntico deve ser implacável. Isto porém supõe uma virilidade, hoje em dia tão ausente que já não pode proferir-se o seu nome sem se atentar contra o pudor… Não possuo autoridade nem para julgar nem para punir – diz-se. Deverei inferir deste baixo sofisma, cuja perfídia é bem minha conhecida, que não possuo sequer autoridade para observar, e que é mesmo interdito erguer o braço para esse incendiário que, cheio de confiança na minha inércia fraterna, vai sob as minhas vistas detonar a mina que destruirá uma cidade inteira? Se os cristãos não houvessem dado tantos ouvidos às lições dos seus inimigos mortais, saberiam nada haver mais justo que a misericórdia, pois nada é mais misericordioso que a justiça, e os seus raciocínios ajustar-se-iam a estas noções elementares.”
- León Bloy em “O Desesperado”
Fonte: Adversus Haereses

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