
“É
muito fácil castrar as almas só lhes ensinando o preceito de amarmos os
nossos irmãos, com prejuízo de todos os demais preceitos que assim lhe
seriam ocultados. Obtém-se por essa via uma religião ociosa e visguenta,
mais temível nos seus efeitos que o próprio niilismo. Ora, o
Evangelho contém ameaças e conclusões terríveis. Jesus, em vinte
lugares, lança o anátema não sobre coisas, mas sim sobre homens que
designa com terrível precisão. Nem por isso deixa de sacrificar sua
vida por todos, mas depois de nos ter deixado a prática de falar ‘em
cima dos telhados’, como ele próprio falou. Ele é o modelo único e aos
cristãos outra coisa não compete fazer que imitar seus exemplos.”
“Que pensariam vocês da caridade de um
homem que deixasse envenenar os seus irmãos com receito de,
advertindo-os, arruinar o prestígio do envenenador? Eu sustento que em
semelhante hipótese a caridade consiste em protestar e que o amor
autêntico deve ser implacável. Isto porém supõe uma virilidade, hoje em
dia tão ausente que já não pode proferir-se o seu nome sem se atentar
contra o pudor… Não possuo autoridade nem para julgar nem para punir –
diz-se. Deverei inferir deste baixo sofisma, cuja perfídia é bem minha
conhecida, que não possuo sequer autoridade para observar, e que é mesmo
interdito erguer o braço para esse incendiário que, cheio de confiança
na minha inércia fraterna, vai sob as minhas vistas detonar a mina que
destruirá uma cidade inteira? Se os cristãos não houvessem dado tantos
ouvidos às lições dos seus inimigos mortais, saberiam nada haver mais
justo que a misericórdia, pois nada é mais misericordioso que a justiça,
e os seus raciocínios ajustar-se-iam a estas noções elementares.”
- León Bloy em “O Desesperado”
Fonte: Adversus Haereses
Fonte: Adversus Haereses
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