Pe. Marcélo Tenorio
Por
causa do pecado original herdamos uma natureza decaída. Não fazemos,
como nos diz S. Paulo o bem que desejamos, mas o mal que não queremos
fazer. É a concupiscência da carne; a inclinação que temos ao mal, que
nos afasta de Deus, nosso Sumo Bem.
A
moral católica nos ensina que não existem "Atos Neutros", de forma que
tudo que fazemos nos leva ou para Deus, ou para longe Dele.
S. Paulo nos admoesta:
"Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus." ( I Cor 10, 31).
Aqui está a chave de tudo: " Dar glória a Deus" pelos nossos atos. De forma que, diante disso, cabe-nos a interrogação: o que faço, o que realizo leva-me a dar glória a Deus?
A glória de Deus, ensina Santo Irineu, "É o homem Vivo!". E é óbvio que trata-se aqui da vida na graça.
Estar
na Glória de Deus é viver na graça e nela permanecer. Então devemos
zelar, redobrar nossos esforços para que, permanecendo Nele , possamos
dar-lhe a glória que lhe é devida.
Nosso
Senhor nos ensinou a procurar por primeiro o Reino de Deus e sua
justiça. Noutros momentos nos admoestou à bravura e até à violência
conosco mesmos: " Se teu olho de faz pecar.." ou " ..O reino dos céus é
para os violentos"(Mt
11, 12.).
Ora o oposto da graça é o pecado. Então sendo assim devemos fugir das ocasiões que podem nos levar ao erro.
Assim a fuga do pecado é mais que uma obrigação, um dever de todos aqueles que amam a Deus e permanecem em seu santo temor.
Cabe-nos então perguntar:
O
que faz um cristão em meio à folia carnavalesca? Não estaria ele se
expondo gravemente ao pecado? E mesmo que, sendo ele alguém "impermeável
"( o que não existe), sua presença ali não seria um ato grave de
cumplicidade com o mal? Como ficar num local - mesmo que ileso - onde
tantas almas são arrastadas à perdição? Que glória estaria dando a Deus
comungando com os infiéis?
Mas, dirão: Estamos apenas nos divertindo. Que mal há nisso?
Ou ainda: O carnaval em si é bom. Nada há de mal. O mal está naqueles que brincam indevidamente.
Santo Agostinho nos ensina que o pecado entra em nós pelos sentidos.
Ora,
a ideia de que o carnaval é bom e que o pecado não é da festa mas do
espírito dos que brincam, é falso e é usado por aqueles que rodopiando
pelo catecismo, com malabarismos tentam justificar e absolver de culpa
aquilo que é o centro de todo mal, o carnaval em si.
Essa
forma de agir é próprio dos modernistas e já tão conhecida que o grande
S. Pio X a condenou na célebre encíclica Pascendi Dominici Gregis , em
1907.
"O objeto é bom ( o carnaval), mas o espírito carnavalesco é que é responsável pelo mal que venha a existir, já que subjetivo."
Coloco
aqui a questão dos atos e dos vícios. Ora beber não é pecado, beber em
demasia, sim. Assim com a comida, com o falar, etc. São as virtudes que
vão moderar os atos humanos, para que não se caia em exageros. Bem
verdade isso.
Ora, mas não podemos nos esquecer o que ensina a moral católica sobre as ocasiões que podem nos levar ao pecado.
Vejamos a questão das ocasiões próximas e remotas.
A
ocasião remota é aquela que encontramos em toda parte, sobretudo nos
dias de hoje, mas raramente arrasta a alma para o pecado. É mais fácil
de ser driblada.
A ocasião próxima, por sua mesma natureza, induz ao pecado.
É claro que para alguns uma ocasião, que aos outros pode ser remota, torna-se próxima.
Claro que, como ensina Sto. Afonso, o "perigo não é igual nem o mesmo para todos".
Tratando-se
do carnaval , não existe distinção entre a folia e foliar, pois a
questão está na natureza mesma da festa, uma natureza de insubordinação
às regras, a preponderação da carne sobre o espírito, e disso não sairá
outro resultado, senão a depravação dos costumes e a rejeição da
prática das virtudes.
Se
hoje temos um carnaval de se fazer inveja aos tempos do dilúvio não é
causa de uma subjetividade de atos, mas da essência mesma da festa. É a
sentença já conhecida: " os que vivem na carne, na carne morrerão"
Novamente S. Paulo:
Mas
qual o objetivo de se rodopiar tanto para salvar o "reinado de Momo?"
Que necessidade existe em se gastar tantos escritos, argumentos
inflamados em defesa de algo tão acidental e dispensável que é a folia
de Momo?
A
verdade é que, reinando Momo também reinamos nós em nossa carne, nos
prazeres e nos desejos mais escondidos, aflorados ou não...É, na verdade
a antiga busca romântica pela autonomia dos sentidos.
Ensina a Imitação de Cristo:
Pois a perfeita vitória é triunfar de si mesmo. Porque aquele que se
domina
a tal ponto, que os sentidos obedeçam à razão e a razão lhe obedeça em
todas as coisas, este é realmente vencedor de si mesmo e senhor do
mundo.
O
carnaval não é uma festa católica. Era uma festa pagã que os romanos
realizavam em fevereiro, as februália. De forma que nada temos com ela,
muito pelo contrário, devemos buscar o essencial para nós que é o Sumo
Bem e ensinar isso àqueles que vivem aos ventos de seus próprios
desejos, alimentando os seus sentidos com tudo o que lhe é prazeroso.
Ora,
é justamente caminhando em sentido contrário, refreando os sentidos,
pondo controle aos vícios que permanecemos na graça para a qual nós
fomos criados. Os santos nos ensinam isso com a própria vida tão cheia
de renúncias e conformidade com a vontade divina.
Leiamos
bem o que vários santos falaram sobre o carnaval, sua repulsa e
condenação a essa folia. A colocação dos santos são simples e clara. Não
cabe aqui interpretações descabidas, na busca de um "não sei que" que
legitime o que é mal em sua natureza e origem.
Fiquemos
com os santos. Sabemos onde estão e como chegaram lá. Certamente não
foi correndo atrás de folias, dando asas ao corpo..muito pelo contrário,
"crucificaram-se com Cristo!
Agindo assim estaremos seguros.
E se a Glória de Deus é o homem vivo, então "Glorifiquemos a Deus em nossos corpos!"
Fonte: Da Mihi Animas
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