Por Autor anônimo
Sempre que Deus quer fazer qualquer coisa de grande, sempre que quer pôr os alicerces de uma vida nova, prepara um lugar secreto, um abrigo de pureza e de silêncio, onde a sua ação possa ser recebida integralmente e sem que nada a perturbe.
Tudo começa no recolhimento e no mistério. Assim o vemos em Belém. Não é no tumulto da cidade nem na praça pública que Jesus vai nascer. Se procurarmos o lugar que Deus escolheu para vir ao mundo, encontraremos um estábulo, um esconderijo cavado na pedra. E, no fundo deste, veremos uma virgem, a mais pudica, a mais silenciosa, a mais discreta das criaturas. O coração desta virgem, onde não penetrou nenhum desejo mundano, foi o lugar que Deus escolheu para encarnar-se.
Pois bem, cada um de nós deve estar em condições análogas para receber a vida da graça e assegurar o seu desenvolvimento até que o próprio Cristo viva em nós. A nossa vida corrente deve ser um refúgio onde o Senhor torne a encarnar-se, uma imagem da gruta de Belém e uma imagem da Virgem Maria. Deve ser um abrigo de solidão e silêncio, onde a nossa alma se reserve inteiramente para Deus e o convide a realizar a sua obra mais valiosa, que é a de comunicar-nos a sua alegria.
A primeira falta que podemos cometer contra a solidão é estarmos demasiado presos ao mundo e à família no seio da qual nascemos. Evidentemente, não se trata de tirar nada do amor que sentimos pelos nossos pais e pelos parentes próximos; pelo contrário, temos a obrigação de amá-los cada vez com um amor mais puro . E se eles estiverem em dificuldades ou necessitados, é justo que soframos por isso. Mas é necessário saber confiá-los a Deus e, se sofremos, sofrer com confiança e abandono perfeitos, de modo que esse sofrimento nos una ainda mais a Deus.
Outra falta contra o espírito de solidão, que tem também a aparência de uma boa intenção, é meter-nos onde não somos chamados: por exemplo, fazendo da ajuda que devemos prestar solicitamente às pessoas chegadas a nós, ocasião para inúteis comentários e falatórios com terceiros, sem guardar a devida discrição. Se acima de tudo soubermos permanecer unidos ao Senhor e confiar-lhe as nossas preocupações com os familiares e os próximos, a doce chama da caridade espalhar-se-á entre os que necessitam da nossa ajuda e contribuirá para manter neles e em nós uma atmosfera de paz que a todos nos consola, nos santifica e nos prepara para o céu.
Ainda outro obstáculo é infelizmente a tagarelice interior, que nos faz muito mal. Em vez de pensarmos na divina realidade do amor, que nos convida a vivê-lo no momento presente, pensamos em coisas irreais, no passado, no que poderíamos fazer no mundo, em acontecimentos que, aliás, não está em nossas mãos controlar. Ou então deixamos desenvolverem-se em nós pensamentos de crítica contra as pessoas das nossas relações ou queixamo-nos interiormente daquilo que temos de sofrer.
Bem sei que o silêncio interior não é fácil e que é sempre imperfeito. Mas é necessário que nos esforcemos com paciência por preservá-lo. O nosso coração é indiscreto e é ele que nos trai. Façamo-lo calar, e o demônio deixará de encontrar-nos, e as tentações deixarão de fazer-nos mossa.
Estes esforços por conservar a solidão e o recolhimento não têm por fim apenas assegurar-nos a calma e o equilíbrio. Trata-se de cooperar com o supremo desejo que Deus quer ver realizado na nossa alma, dando nela um refúgio onde o seu Filho possa voltar a nascer. Por mais humilde e oculta que seja a nossa existência, o amor que reina no nosso coração é um bem para a humanidade. Porque esta tem necessidade de caridade. Só a caridade é que dá alegrias; e, por outro lado, a graça é fecunda: não pode arder em nós sem dar origem a muitos outros focos de incêndios de amor.
Que a Virgem Maria, escondida e silenciosa na gruta de Belém, nos ajude a imitá-la no recolhimento e na pureza, na sua fidelidade de esposa e na sua generosidade de Mãe das almas.
Fonte: A vida em Deus, Quadrante, 2012.
Tradução: Emérico da Gama
Sempre que Deus quer fazer qualquer coisa de grande, sempre que quer pôr os alicerces de uma vida nova, prepara um lugar secreto, um abrigo de pureza e de silêncio, onde a sua ação possa ser recebida integralmente e sem que nada a perturbe.
Tudo começa no recolhimento e no mistério. Assim o vemos em Belém. Não é no tumulto da cidade nem na praça pública que Jesus vai nascer. Se procurarmos o lugar que Deus escolheu para vir ao mundo, encontraremos um estábulo, um esconderijo cavado na pedra. E, no fundo deste, veremos uma virgem, a mais pudica, a mais silenciosa, a mais discreta das criaturas. O coração desta virgem, onde não penetrou nenhum desejo mundano, foi o lugar que Deus escolheu para encarnar-se.
Pois bem, cada um de nós deve estar em condições análogas para receber a vida da graça e assegurar o seu desenvolvimento até que o próprio Cristo viva em nós. A nossa vida corrente deve ser um refúgio onde o Senhor torne a encarnar-se, uma imagem da gruta de Belém e uma imagem da Virgem Maria. Deve ser um abrigo de solidão e silêncio, onde a nossa alma se reserve inteiramente para Deus e o convide a realizar a sua obra mais valiosa, que é a de comunicar-nos a sua alegria.
A primeira falta que podemos cometer contra a solidão é estarmos demasiado presos ao mundo e à família no seio da qual nascemos. Evidentemente, não se trata de tirar nada do amor que sentimos pelos nossos pais e pelos parentes próximos; pelo contrário, temos a obrigação de amá-los cada vez com um amor mais puro . E se eles estiverem em dificuldades ou necessitados, é justo que soframos por isso. Mas é necessário saber confiá-los a Deus e, se sofremos, sofrer com confiança e abandono perfeitos, de modo que esse sofrimento nos una ainda mais a Deus.
Outra falta contra o espírito de solidão, que tem também a aparência de uma boa intenção, é meter-nos onde não somos chamados: por exemplo, fazendo da ajuda que devemos prestar solicitamente às pessoas chegadas a nós, ocasião para inúteis comentários e falatórios com terceiros, sem guardar a devida discrição. Se acima de tudo soubermos permanecer unidos ao Senhor e confiar-lhe as nossas preocupações com os familiares e os próximos, a doce chama da caridade espalhar-se-á entre os que necessitam da nossa ajuda e contribuirá para manter neles e em nós uma atmosfera de paz que a todos nos consola, nos santifica e nos prepara para o céu.
Ainda outro obstáculo é infelizmente a tagarelice interior, que nos faz muito mal. Em vez de pensarmos na divina realidade do amor, que nos convida a vivê-lo no momento presente, pensamos em coisas irreais, no passado, no que poderíamos fazer no mundo, em acontecimentos que, aliás, não está em nossas mãos controlar. Ou então deixamos desenvolverem-se em nós pensamentos de crítica contra as pessoas das nossas relações ou queixamo-nos interiormente daquilo que temos de sofrer.
Bem sei que o silêncio interior não é fácil e que é sempre imperfeito. Mas é necessário que nos esforcemos com paciência por preservá-lo. O nosso coração é indiscreto e é ele que nos trai. Façamo-lo calar, e o demônio deixará de encontrar-nos, e as tentações deixarão de fazer-nos mossa.
Estes esforços por conservar a solidão e o recolhimento não têm por fim apenas assegurar-nos a calma e o equilíbrio. Trata-se de cooperar com o supremo desejo que Deus quer ver realizado na nossa alma, dando nela um refúgio onde o seu Filho possa voltar a nascer. Por mais humilde e oculta que seja a nossa existência, o amor que reina no nosso coração é um bem para a humanidade. Porque esta tem necessidade de caridade. Só a caridade é que dá alegrias; e, por outro lado, a graça é fecunda: não pode arder em nós sem dar origem a muitos outros focos de incêndios de amor.
Que a Virgem Maria, escondida e silenciosa na gruta de Belém, nos ajude a imitá-la no recolhimento e na pureza, na sua fidelidade de esposa e na sua generosidade de Mãe das almas.
Fonte: A vida em Deus, Quadrante, 2012.
Tradução: Emérico da Gama
Créditos: Quadrante
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