quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Não dê um smartphone ao seu filho



Por Jonathon van Maren | Depois de passar quatro dias em um encontro de combate à exploração sexual, na cidade de Houston, no Texas, minha mente está exausta. Assistimos a palestras sobre neurociência, tráfico humano, abuso sexual, exploração infantil e muito mais. Também assistimos a muitas, muitas palestras, sobre o veneno que tem se infiltrado em todos os lugares, alimentando o estupro, destruindo relacionamentos, debilitando os homens e obliterando a infância: a pornografia.

Ainda escreverei muito mais sobre o que aprendi, mas, por enquanto, gostaria de fazer aos pais um breve apelo, que praticamente todos os palestrantes fizeram e eu faço questão de repetir: não dê um smartphone ao seu filho.

Parece loucura imaginar que, uma década atrás, smartphones eram incomuns. Muitas pessoas sequer tinham um celular em mãos. Agora, de acordo com a premiada jornalista e escritora Nancy Jo Sales — autora de American Girls: Social Media and the Secret Lives of Teenagers —, praticamente todas as interações sociais (e sexuais) dos adolescentes foram canalizadas para os pequenos e frenéticos aparelhos que eles carregam consigo para onde quer que vão. Isso tem feito crescerem ocyberbullying, o consumo e a produção de pornografia e até mesmo o suicídio e a exploração sexual entre jovens. Adolescentes — e crianças — são puxados para dentro das redes sociais, do Facebook ao Instagram, do Snapchat a outra meia dúzia de aplicativos desconhecidos, onde as interações e os conteúdos são selecionados apenas pelas crianças que os acessam, livres de qualquer supervisão dos pais ou adultos.

Os adolescentes sabem que isso está tornando as suas vidas miseráveis. As meninas com quem conversou a jornalista Nancy Sales também lhe contaram isso. Mas elas também revelaram não ter saída. Como hoje a maior parte da vida das pessoas se passa online, optar por sair é como escolher o isolamento voluntário. As "moedas de troca" geralmente envolvem imagens de nudez, sexo explícito ou "selfies" — e, cada vez mais, também isso deixou de ser opcional.

Os pais são incapazes de controlar esse novo mundo dos adolescentes. Em muitos casos, eles sequer conseguem penetrar o seu interior. É por isso que um pai ficou tão perplexo quando sua filha se enforcou depois de um adolescente cruelmente publicar um vídeo seu tomando banho no Snapchat — aquela tinha sido, na verdade, a primeira vez em que o pai, desolado, ouviu falar de "Snapchat". Para os pais que desejam resgatar os seus filhos da "selva da Internet" ou poupá-los do sofrimento que está devastando milhões de pessoas, há algumas alternativas. Diálogo honesto e conversas francas. Fiscalização atenta do uso das redes sociais. Programas especiais e filtros de Internet em todos os aparelhos de tecnologia.

Mas, por hoje, eu gostaria de indicar apenas uma coisa: não dê um smartphone ao seu filho.

Esse conselho tem me tornado bastante impopular em alguns ambientes. Um dia desses, durante apresentação em uma escola, um adolescente me cumprimentou com sarcasmo: "Então você é aquele que disse aos meus pais que eu não deveria ter um celular". Mas isso é essencial. As crianças e a maior parte dos adolescentes não precisam de um celular com acesso à Internet. Eles não precisam de acesso ininterrupto aos sites de mídia social que os submetem mais à influência de seus colegas que à de seus pais. Eles não precisam da pressão social que inevitavelmente —inevitavelmente — advém da entrada em um mundo com novos padrões e novas "moedas de troca". E, acima de tudo, eles não devem ter acesso a toda a pornografia que a web pode oferecer, a todo esse material sujo criando novos e destrutivos modelos de comportamento — modelos com os quais toda a juventude, para além dos Estados Unidos, está começando a se conformar, seja por pressão, por violência ou por escolha própria.

Escutei dezenas de histórias nesse fim de semana, de pais que se surpreenderam encontrando os seus filhos assistindo a pornografia pesada em seus smartphones. Crianças com idade menor que a média de primeira exposição a pornografia, que costumava ser 11 anos. Agora são 9. Essas crianças, em alguns breves momentos de espanto e terror, têm roubada a sua inocência. Seus mundos mudam por completo naquele momento. Elas não podem "desver" o que viram. Elas sequer deveriam ter acesso a isso, para começo de história.

Por isso, não coloque um smartphone na mão do seu filho.

Eu entendo que os adolescentes tendem mais a precisar realmente de um celular. Meus pais me compraram um telefone celular quando eu tirei a carteira de habilitação — não para que eu interagisse com meus amigos e entrasse na Internet, mas para que eles entrassem em contato comigo e eu tivesse um meio de me comunicar quando estivesse fora, essas coisas. Meus primeiros celulares não tinham acesso à Internet, e eu não perdi nada com isso. Confesso que às vezes gostaria que meu telefone atual também não tivesse Internet, porque eu sou culpado, juntamente com esta geração, de desperdiçar tempo no meu telefone quando poderia estar fazendo alguma coisa (qualquer coisa, na verdade) mais produtiva. Mas, quando adolescentes precisam de um telefone, mesmo assim eles não precisam de um telefone com acesso à Internet. Um telefone que lhes permita fazer ligações e mandar mensagens é bom o suficiente. Eles não precisam estar constantemente conectados às redes sociais, não precisam de Snapchat (um aplicativo que pode arruinar vidas em questão de segundos) e eles definitivamente não devem ter acesso à pornografia selvagem com a qual quase inevitavelmente irão se deparar.

Não dê aos produtores pornográficos o acesso que eles tanto procuram aos seus filhos. Eles sabem que crianças e adolescentes são mais propensos a encontrar pornografia em seus celulares, e é por isso que eles fizeram um esforço gigantesco nos últimos anos para criar material pornô que pudesse ser visto e transmitido via aparelhos móveis. Eles sabem como chegar aos seus filhos: por meio de um smartphone.

Não dê um ao seu filho.

Fonte: LifeSiteNews.com | Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere
Créditos: padrepauloricardo.org

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Nossa liberdade está em sermos servos da verdade


Em discurso feito ainda no início de seu pontificado, São João Paulo II encoraja os sacerdotes a serem fiéis à doutrina moral da Igreja e faz uma bela reflexão sobre a reconciliação da consciência humana com Deus.


O texto a seguir infelizmente só se encontrava no site do Vaticano em línguas italiana e francesa, mas, dadas a atualidade do assunto, a caridade e a verdade das palavras, bem como a autoridade de quem fala — um Papa santo —, demo-nos ao trabalho de vertê-lo para a língua portuguesa, a fim de tornar disponível, a todos os que nos acompanham, esta preciosidade.

Quem se pronuncia abaixo é São João Paulo II, o tema de seu discurso é a "procriação responsável" e os destinatários de sua fala são os sacerdotes. A eles, partícipes consigo "do único sacerdócio de Cristo", o Papa dirige uma palavra de encorajamento, ao mesmo tempo em que medita sobre a reconciliação da consciência humana com Deus — tema ao qual ele dedicaria, em 1993, a importantíssima encíclica Veritatis Splendor.
Discurso do Papa São João Paulo II a sacerdotes participantes de seminário sobre "A procriação responsável"
Quinta-feira, 1.º de março de 1984
Caríssimos sacerdotes!

1. Alegro-me em acolher-vos nesta audiência especial, que me permite exprimir-vos o profundo afeto que tenho por vós, partícipes comigo do único sacerdócio de Cristo, e manifestar-vos ao mesmo tempo a grande consideração que tenho pelo trabalho pastoral ao qual dedicais as vossas melhores energias.

Vós desenvolveis o vosso apostolado particularmente a serviço da família, na justa convicção de que toda ajuda oferecida a esta célula fundamental do consórcio humano comporta uma eficácia multiplicada, que se reflete em diversos componentes do núcleo familiar, ao mesmo tempo em que se perpetua no tempo, graças à obra educacional que dos pais se percebe nos filhos e, por meio destes, nos netos.

Desejo confirmar-vos nesta convicção e encorajar-vos a prosseguir a obra começada, na qual não vos pode faltar a bênção de Deus, primeiro idealizador da comunidade familiar e, "quando chega a plenitude do tempo" (Gl 4, 4), seu providente redentor.

2. Este encontro acontece por ocasião de vossa participação no congresso que oCentro de estudos e pesquisas sobre a regulação natural da fertilidade, da Universidade Católica do Sagrado Coração, e o Instituto de estudos sobre o matrimônio e a família, da Pontifícia Universidade Lateranense, oportunamente promovem sobre o importante tema da procriação responsável. Gostaria, nesta circunstância, de dizer alguma coisa sobre o assunto a partir de um ponto de vista sobretudo pastoral.

Na recente celebração do Jubileu dos sacerdotes, admoestei-os: "Abramos sempre mais largamente os olhos — o olhar da alma — para compreender melhor o que significa perdoar os pecados e reconciliar as consciências humanas com o Deusinfinitamente santo, com o Deus da Verdade e do Amor" [1]. Reconciliar a consciência humana com o Deus da Verdade e do Amor; é esse o vosso ministério sempre, mas de um modo especial quando colocais o vosso sacerdócio a serviço dos esposos.

Vós quisestes, nestes dias, descobrir e aprofundar os fundamentos científicos, filosóficos e teológicos da procriação responsável: mais precisamente da doutrina da encíclica Humanae Vitae e da exortação apostólica Familiaris Consortio, a fim de reconciliar a consciência humana dos esposos com o Deus da verdade e do amor. Mas quando é que, de fato, a consciência humana é "reconciliada"? Quando passa a existir nela a paz profunda? Quando ela está na Verdade. E os dois documentos acima citados, na fidelidade à tradição da Igreja, ensinaram a verdade acerca do amor conjugal enquanto comunhão de pessoas.

O que significa "reconciliar a consciência dos esposos com a verdade do seu amor conjugal"? Quando os seus contemporâneos perguntam a Cristo se seria lícito ao marido repudiar a mulher, Ele responde reportando-se "ao princípio", isto é, aoprojeto original do Criador sobre o matrimônio. Vós também, que enquanto sacerdotes operais em nome de Cristo, deveis mostrar aos esposos que tudo quanto foi ensinado pela Igreja sobre a procriação responsável não é senão o projeto original que o Criador imprimiu na humanidade do homem e da mulher que se casam, e que o Redentor veio para restabelecer. A norma moral ensinada pelaHumanae Vitae e pela Familiaris Consortio é a defesa da verdade inteira do amor conjugal, porquanto exprime as exigências imprescindíveis deste amor.

Estejai certos: quando o vosso ensinamento é fiel ao magistério da Igreja, vós não ensinais algo que o homem e a mulher não possam compreender — inclusive o homem e a mulher de hoje. Esse ensinamento, de fato, que vós fazeis ressoar aos seus ouvidos, já está escrito em seus corações. O homem e a mulher devem ser ajudados a ler profundamente essa "escritura no coração". E o fato de que nesses três dias de estudo vós quisestes descobrir as razões do Magistério da Igreja, não significa porventura que quereis ter sempre mais claras as vias pelas quais conduzir os esposos à verdade profunda de si mesmos e do seu amor conjugal?

3. Reconciliar a consciência humana dos esposos com o Deus da verdade e do amor: a consciência humana dos esposos é verdadeiramente reconciliada quando eles descobrem e acolhem a verdade sobre o seu amor conjugal. De fato, como escreve Santo Agostinho, "beata quippe vita est gaudium de veritate, hoc est enim gaudium de te, qui veritas es — felicidade é gozo da verdade, o que significa gozar de ti, que és a verdade" [2].

Vós bem sabeis que, muitas vezes, a fidelidade por parte dos sacerdotes — digamos até, da própria Igreja — a essa verdade e às normas morais decorrentes (aquelas, quero dizer, ensinadas pela Humanae Vitae e pela Familiaris Consortio) custa muitas vezes um alto preço. Muitas vezes se é ridicularizado, acusado de incompreensão e de dureza, e de muitas outras coisas. É a sorte de todo testemunho da verdade, como bem sabemos. Ouçamos ainda uma página de Santo Agostinho: "No entanto, por que a verdade gera o ódio?", pergunta-se o santo doutor. "De fato", ele responde, "o amor da verdade é tal que os que amam algo diferente querem que aquilo que amam seja a verdade. Como não admitem ser enganados, detestam ser convencidos do seu erro. Assim, odeiam a verdade porque amam aquilo que supõem ser a verdade. Amam-na quando ela brilha, e a odeiam quando ela os repreende." [3]

Com simples e humilde firmeza, portanto, sede fiéis ao magistério da Igreja sobre esse ponto de importância tão decisiva para os destinos do homem.

4. Existe uma dificuldade verdadeira à reconciliação da consciência humana dos esposos com o Deus da verdade e do amor, dificuldade que é de natureza bem diferente desta há pouco indicada.

A reconciliação não acontece se os esposos somente sabem perceber a verdade do seu amor conjugal: é necessário que a sua liberdade se realize diante da verdade. A dificuldade verdadeira é que o coração do homem e da mulher é habitado pela concupiscência; e a concupiscência inclina a liberdade a não se submeter às exigências autênticas do amor conjugal.

Seria um erro gravíssimo concluir disso que a norma ensinada pela Igreja é em si própria apenas um "ideal" que deve posteriormente ser adaptado, proporcionado, graduado — dizem — às concretas possibilidades do homem: segundo um "cálculo dos vários bens em questão". Mas quais são as "concretas possibilidades do homem"? E de que homem se fala? Do homem dominado pela concupiscência ou do homem redimido por Cristo? Pois é disso que se trata: da realidade da redenção de Cristo. 

Cristo nos redimiu! Isso significa que Ele nos deu a possibilidade de realizar toda a verdade do nosso ser; Ele libertou a nossa liberdade do domínio da concupiscência. E se o homem redimido ainda peca, não é devido à imperfeição do ato redentor de Cristo, mas à vontade do homem de furtar-se à graça que brota daquele ato. O mandamento de Deus é certamente proporcionado às capacidades do homem: mas às capacidades do homem a quem foi dado o Espírito Santo; do homem que, no caso de cair no pecado, sempre pode obter o perdão e gozar da presença do Espírito.

A reconciliação da consciência humana dos esposos com o Deus da Verdade e do Amor se dá pela remissão dos pecados — pelo humilde reconhecimento de que não somos adequados e comensurados, por assim dizer, à verdade e às suas exigências —, e não pela orgulhosa redução da verdade e das suas exigências àquilo que nósdecidimos ser verdadeiro e bom. A nossa liberdade está em sermos servos da verdade. Como lemos na Liturgia das Horas de ontem: "Servo fiel é aquele que não espera ouvir de ti o que desejaria ouvir, mas antes deseja aquilo que ouve de ti" [4].

A nossa caridade pastoral para com os esposos consiste em sermos sempre disponíveis a oferecer-lhes o perdão dos pecados, através do sacramento da Penitência, não em diminuirmos aos seus olhos a grandeza e a dignidade do seu amor conjugal.

5. "Abramos sempre mais largamente os olhos — o olhar da alma — para compreender melhor o que significa perdoar os pecados e reconciliar as consciências humanas com o Deus infinitamente santo, com o Deus da verdade e do amor".

É desse olhar profundo de nossa alma sacerdotal que os esposos têm necessidade, que toda a Igreja tem necessidade. Para que os esposos, para que toda a Igreja louve o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, imersa na contemplação daquele amor e daquela verdade com as quais vós reconciliais a consciência humana dos esposos.

Invocando sobre o vosso ministério a confortante efusão dos copiosos dons da sabedoria e da caridade, de coração vos concedo minha bênção apostólica.

Fonte: Santa Sé | Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
Santo Agostinho, Confissões X, 23, 33. Trad. port. de Maria L. J. Amarante. São Paulo: Paulus, 1984, p. 292.
Idem.
Santo Agostinho, op. cit., X, 26, 37, p. 295.

Créditos:https://padrepauloricardo.org/blog/nossa-liberdade-esta-em-sermos-servos-da-verdade
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